Depois da Coreia do Norte, Google faz diplomacia económica na Birmânia

Eric Schmidt foi a Rangum pedir que os líderes do país que admitiu alguma democracia não controlem a Internet, quando o mercado de telecomunicações se está a abrir a investidores estrangeiros.

Foto
Schmidt a falar com estudantes birmaneses Ye Aung/AFP

Na segunda visita à Ásia desde o início do ano – a primeira foi à Coreia do Norte –, o presidente não executivo do Google argumentou nesta sexta-feira na Birmânia que a Internet fará com que o país não volte à ditadura.

“O vosso Governo tomou uma decisão política incrivelmente importante: abrir o país a ideias estrangeiras, à Internet, às vossas próprias [tele]comunicações, aos vossos jornais”, disse na Universidade Tecnológica de Rangum, numa conferência intitulada Conversa entre Eric Schmidt e os Futuros Líderes da Birmânia, de onde seguiu, de acordo com a agenda oficial, para um encontro com o Presidente birmanês, Thein Sein.

Durante a ditadura militar, o controlo sobre os meios de comunicação era apertado, mas tem vindo a ser progressivamente afrouxado desde Março de 2011, após quase cinco décadas de governo militar. Em Agosto do ano passado, o Governo anunciou o fim da censura prévia aos media. No próximo mês, surgirão os primeiros jornais privados. Nos sites, praticamente desapareceu o controlo sobre conteúdos, segundo um relatório da OpenNet Initiative, uma fundação que reúne universidades americanas e canadianas. “A Internet vai fazer com que seja impossível voltar atrás”, afirmou Schmidt, que, segundo a agência Reuters, recebeu um forte aplauso quando aconselhou o Governo a manter-se afastado da regulação da Internet.

Naquele que era um dos países mais fechados do planeta, o acesso a telemóveis é escasso e à Internet ainda mais raro. A popopulação ronda os 60 milhões, mas, de acordo com o Banco Mundial, só 1% acedia à Internet em 2011. Relatos do jornal Times of India dão conta de que há alturas do dia em que é praticamente impossível aceder ao email devido à lentidão da rede, provocada por infra-estruturas débeis.

Já a taxa de penetração de telemóveis, segundo dados governamentais, é de 9% (o Banco Mundial indicava 2,5% em 2011), o que coloca o país quase no fim da tabela mundial e a uma grande distância de outros países da região, como o Camboja (70%) e a Tailândia (110%).

Os cartões de telemóvel são vendidos a preços exorbitantes: mais de 200 dólares nos tempos recentes, o que corresponde a cerca de metade do salário mínimo anual estabelecido no ano passado. Na Tailândia, por exemplo, custam quatro dólares. O Governo birmanês, porém, já comunicou que vai baixar drasticamente os preços, como parte dos esforços para alcançar a meta de fazer com que oito em cada dez habitantes tenham um telemóvel em 2016.

Oportunidades de negócio

A expansão das telecomunicações nos populosos países asiáticos é uma oportunidade de negócio a que as multinacionais têm estado atentas, e o mercado de comunicações birmanês já despertou atenções. Em Janeiro, o Governo arrancou com o processo de atribuição de duas licenças para teleoperadores, convidando empresas estrangeiras a candidatarem-se. Pelo menos um operador norueguês, dois de Singapura e um da Malásia manifestaram interesse numa adjudicação que poderá estender-se por 20 anos.

O Google lançou esta semana a versão birmanesa do motor de busca e Schmidt disse esperar que a empresa possa disponibilizar mais conteúdo local, incluindo os populares mapas Google e o serviço de fotografias Street View, os quais, observou, poderão ajudar a atrair turistas.

Por outro lado, as duas fabricantes mais populares de telemóveis no país  a sul-coreana Samsung e a chinesa Huawei  usam o sistema Android (desenvolvido pelo Google) para equipar muitos dos seus modelos, o que ajudará a multinacional americana a atrair utilizadores para o seu vasto leque de serviços, muitos dos quais vêm pré-instalados nos modelos Android.

A abertura da Birmânia contrasta com a postura da Coreia do Norte, país ao qual o presidente do Google fez em Janeiro uma visita, muito mediatizada, mas classificada como pessoal. Schmidt observou mais tarde que a decisão de permanecer isolada fará com que seja “muito difícil” para a Coreia do Norte ter crescimento económico e apelou a que o país abrisse o uso da Internet.

Já nesta semana, a caminho da Birmânia, Schmidt passou pela Índia, onde a empresa americana tem instalações e um centro de investigação. Esteve reunido com start-ups locais, apelou a medidas que fomentem o empreendedorismo tecnológico e aproveitou para criticar a legislação aprovada no ano passado, que obriga as empresas que operam online a vigiarem os conteúdos publicados pelos utilizadores.
 

Sugerir correcção
Comentar