Criador dos anúncios pop-up pede desculpas

Num ensaio na revista Atlantic, um cientista do MIT recorda "o pecado original".

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Criador dos pop-up diz que é tempo de modelos de negócio para lá da publicidade Rui Gaudêncio

Será difícil encontrar quem não os considere uma praga. Os anúncios pop-up, em que uma nova janela com publicidade se abre (frequentemente sem que o utilizador perceba bem de onde veio), irrita há anos todos os que navegam na Internet. Agora, o criador veio pedir desculpas.

Num artigo na revista americana Atlantic – intulado O Pecado Original da Internet –, Ethan Zuckerman, hoje cientista no MIT, explica como o primeiro anúncio deste tipo surgiu pela necessidade de um modelo de negócio para o Tripod, um serviço de alojamento de sites em que Zuckerman trabalhava.

O Tripod teve o auge de popularidade no final da década de 1990 e pode ser considerado uma espécie de antepassado das plataformas de blogues. Na altura, recorda Zuckerman, foram considerados todo o tipo de modelos de negócio, entre os quais um modelo de assinatura paga e até a venda de merchandising. Porém, a opção mais simples, como acontece desde aquela altura com imensos serviços online, foi juntar publicidade aos conteúdos. “Escrevi o código para lançar a janela e pôr um anúncio lá dentro. Desculpem. As nossas intenções eram boas”, escreve Zuckerman. A ideia de colocar os anúncios numa janela autónoma, e não na mesma página dos conteúdos, surgiu depois de uma marca de carros não ter gostado de ver uma publicidade sua numa página sobre sexo anal. 

O pop-up continua a irritar nos dias de hoje. Um inquérito da empresa de análise eMarketeer, feito no ano passado a utilizadores americanos, concluiu que os pop-ups com publicidade irrelevante eram considerados o pior tipo de anúncio pelo maior número de pessoas, a par apenas dos anúncios com hipotéticos prémios de lotarias e sorteios e à frente dos clássicos emails com produtos para aumentar o pénis. Não admira que os browsers de Internet tenham integrado funcionalidades que tentam impedir o aparecimento de novas janelas (além de que há soluções que permitem evitar praticamente todo o tipo de publicidade na Internet).

O ensaio na Atlantic parte do pop-up original, mas é um pedido de desculpa também por todo o modelo de receitas com base em publicidade online. “Comecei a acreditar que a publicidade é o pecado original da Web”, escreve Zuckerman, argumentando que os utilizadores foram treinados para esperarem que tudo o que dizem e fazem seja agregado em perfis que determinam os anúncios que vêem, sem que isso os incomode particularmente. 

Ao fim de 20 anos de uma Web rentabilizada com anúncios, conclui Zuckerman no final do longo texto, é possível perceber que o modelo deixou de funcionar. “É tempo de começar a pagar pela privacidade, de apoiar os serviços de que gostamos, e de abandonar aqueles que são gratuitos, mas nos vendem – a nós, utilizadores, e à nossa atenção – como o produto.”

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