Hackers suspeitos de ataque a Procuradoria libertados mas impedidos de aceder à Internet

Criador do Tugaleaks suspeito de instigar e colaborar em ataques do grupo em que surgia como um dos líderes. Um dia após PJ deter oito pessoas, outros piratas atacaram site do ICS e exigiram libertação dos detidos.

Foto
O grupo Sudoh4kers é parte integrante dos Anonymous Portugal Paulo Pimenta

Os oito detidos pela Polícia Judiciaria no âmbito de uma grande operação em Lisboa e no Porto, com 70 funcionários, saíram ao início da noite desta sexta-feira em liberdade depois de terem sido ouvidos em primeiro interrogatório por um juiz de instrução criminal. O magistrado não viu provados os pressupostos necessários para lhes aplicar uma medida de coação mais gravosa como seria a prisão preventiva e considerou suficiente impedi-los de acederem à Internet, adiantou ao PÚBLICO fonte policial.

Esta medida de coacção, adiantou a mesma fonte não é de fácil controlo, mas o tribunal poderá eventualmente notificar os operadores do mercado que actualmente fornecem acesso à Internet fornecendo os nomes dos arguidos e determinado a proibição para que qualquer contrato seja feito com essas pessoas. No entanto, é possível que usem os nomes de outras pessoas ou até recorram a cibercafés ou a equipamentos portáteis de acesso à Internet que não obrigam a qualquer assinatura e, por isso, não se identificam.

Todos os oito detidos terão colaborado, tendo aceitado prestar declarações perante o juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa ao longo do dia. As suas declarações terão ajudado o magistrado judicial e o procurador do Ministério Público a entender o envolvimento dos arguidos nestas acções de pirataria informática ligagadas ao grupo Anonymous e que não terminaram no dia em que foram detidos. Alguns dos suspeitos terão começado por se conhecer em manifestações de 2013 e 2014 nas quais se tapavam com a típica máscara comumente usada pelos Anonymous. Por alusão a essa actuação e identificação, a operação da PJ chamou-se "Caretos".

Hackers voltam a atacar e exigem libertação de membros dos Anonymous

Menos de 24 horas depois da operação da Polícia Judiciária que levou à detenção de oito pessoas pelo envolvimento em vários ataques a sistemas informáticos de instituições públicas e privadas, o grupo Sudoh4kers, que se identifica como parte integrante dos Anonymous Portugal, reivindicou esta madrugada uma acção contra o Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.

Num post publicado na madrugada desta sexta-feira na sua página no Facebook, o Sudoh4kers identifica o site do ICS como alvo de um ataque informático, incluindo o endereço que dá acesso à base de dados de pós-graduação da instituição. No post são avançadas passwords para aceder à base de dados.

Além do instituto, o grupo lista aqueles que parecem ser os seus próximos alvos, entre eles o site da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e páginas a ele associado. No final da mensagem na rede social, o aviso: "O ataque informático aos órgãos universitários e governamentais continuarão até que os mesmos [membros dos Anonymous] sejam libertados... O avanço com o processo sem conhecimento do mesmo trará futuros problemas para os vossos sistemas."

Horas antes deste post, o grupo publicava uma outra mensagem onde exigia a “liberdade imediata para os sete membros dos Anonymous detidos pela Polícia Judiciária”. "Nós temos ainda mais daquilo que vocês pensam, muito mais... Anonymous é imortal! Não podem prender uma ideia”, acrescentaram.

Numa resposta enviada ao PÚBLICO na madrugada de sábado, o Sudoh4kers afirma, "em nome do Anonymous Portugal", que o ataque ao site do ICS foi "apenas um alerta ao governo português de que existem outras fontes de investigação" para investigar "problemas sociais", como os "níveis de má gestão deste país que tem levado Portugal a um défice elevadíssimo" a nível europeu, "graças ao péssimo trabalho dos governantes". "O motivo principal é levar essa informação aos portugueses", acrescenta a nota.

Pelas 12h15 desta sexta-feira, o site do Instituto de Ciências Sociais registava vários problemas no acesso a várias subsecções. Os separadores de contactos, informações sobre investigação ou sobre o próprio instituto abriam páginas incompletas. Ao PÚBLICO, o instituto recusou fazer qualquer comentário sobre o caso, indicando apenas que “está a tentar resolver o problema”.

O ataque acontece um dia depois de uma operação da Polícia Judiciária ter levado à detenção de oito pessoas, incluindo o criador do site Tugaleaks, Rui Cruz, suspeitas de ataques informáticos a servidores que alojam sites de instituições como a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, a Polícia Judiciária, o Conselho Superior da Magistratura, EDP e Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

Rui Cruz tem um título de equiparado a jornalista, já que o Tugaleaks está registado como orgão de comunicação social. O título fio entretanto suspenso por iniciativa da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista. A organização Repórteres Sem Fronteiras condenou esta sexta-feira em comunicado a detenção de um jornalista considerando preocupante que um jornaista possa ter sido preso por ter revelado a existência destes ataques.

Porém, o que está em causa é bem mais do que a divulgação que não é crime. O criador do Tugaleaks é suspeito de ter instigado os ataques tendo-se mesmo envolvido em alguns deles. Aliás, teria algum ascendente sobre os restantes elementos do grupo surgindo como um dos seus líderes, adiantou fonte policial ao PÚBLICO. A mesma fonte explicou que o site funcionava como uma espécie de órgão de informação oficial dos hackers que atacavam os sites de importantes serviços do Estado e de empresas privadas. O site divulgou todos os ataques, contudo, e não tendo a divulgação qualquer relevância criminal não é essa actuação que está em causa. 

Um comunicado da PJ dava conta esta quinta-feira de que tinham sido detidas sete pessoas durante a operação, porém, ao início da noite desse mesmo dia foi detida mais uma pessoa, que já estava constituida como arguida neste processo, face à gravidade de indicios entretanto recolhidos pelos inspectores.  

A operação da Judiciária incluiu 24 buscas em Lisboa e no Porto, tendo sido detidas as oito pessoas, com idades entre os 17 e os 40 anos, por suspeita dos crimes de acesso ilegítimo, dano informático e sabotagem informática. Os detidos foram inquiridos durante todo o dia de esta sexta-feira no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.

Foram ainda constituídos outros 14 arguidos face a suspeitas de envolvimento nos crimes nesta operação à qual a Judiciária deu o nome de código C4R3T05 (Caretos), numa alusão à típica máscara que simboliza os Anonymous.

Notícia actualizada às 08h42 de 28 de Fevereiro: Acrescenta noata do grupo Sudoh4kers enviada ao PÚBLICO

Sugerir correcção
Ler 25 comentários