Amnistia Internacional lança software contra vigilância a activistas e jornalistas

A organização afirma que o Detekt é “capaz de detectar os principais programas de vigilância spyware em computadores”.

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Num dos casos citados, 2000 computadores foram infectados com vírus Kacper Pempel/Reuters

A Amnistia Internacional anunciou nesta quinta-feira o lançamento de um programa gratuito em código aberto para que activistas dos direitos humanos e jornalistas possam saber se os seus computadores estão a ser alvo de vigilância por software que a organização afirma ser usado por alguns governos para aceder a informação.

“Os governos estão a recorrer cada vez mais a tecnologia perigosa e sofisticada para aceder aos emails de activistas e jornalistas e para ligarem de forma remota as câmaras dos computadores e microfones e gravarem secretamente as suas actividades. Usam estas tecnologias numa tentativa cobarde que visa evitar que sejam expostos e divulgados abusos”, acusa o responsável pelo programa de Segurança, Polícias e Forças Armadas da Amnistia Internacional, Marek Marczynski, citado num comunicado da organização.

Surge assim o Detekt, “capaz de detectar os principais programas de vigilância spyware em computadores”, segundo a Amnistia Internacional (AI), que lança o programa em parceria com as organizações Digitale Gesellschaft, Electronic Frontier Foundation e Privacy International.

Desenvolvido pelo perito alemão em segurança Claudio Guarnieri, o Detekt é um programa de acesso gratuito que faz uma busca no computador à procura de sinais de vigilância feita por softwares externos aos dados armazenados nos computadores, neste caso de defensores dos direitos humanos e de jornalistas. “Ao alertar para o facto de que estão a ser espiados, terão a possibilidade de tomar precauções”, sustenta a AI.

O Deteck foi desenvolvido por investigadores da área de segurança e tem sido usado para ajudar nas investigações do Citizen Lab, que AI afirma estar a ser utilizado por governos na espionagem de “defensores dos direitos humanos, jornalistas e activistas”. O Citizen Lab funciona na Universidade de Toronto, no Canadá, e estuda processos de controlo de informação, desde as redes de vigilância online à filtragem de conteúdos, que tenham efeitos na segurança da Internet e que possam representar um risco para a defesa dos direitos humanos.

Claudio Guarnieri, o criador do Deteck, explica que o programa “é um contra-ataque aos governos que estão a usar informações obtidas através de programas de vigilância para deter arbitrariamente, prender ilegalmente e até torturar defensores de direitos humanos e jornalistas”.

Em declarações à BBC, acrescenta que há uma crescente lista de empresas que produzem software de espionagem. "A spyware está a tornar-se a solução final para operações de vigilância ultrapassarem a encriptação”, sublinha, lamentando que "ninguém tenha realmente perguntado ao público se isso é aceitável” . Segundo Guarnieri, “alguns países estão a legitimar o seu uso sem considerar as consequências e problemas inerentes".

A AI indica que, com base em dados recolhidos pela plataforma Coalition Against Unlawful Surveillance Exports, o comércio mundial anual de tecnologias de vigilância atinge os quase 4000 milhões de euros e “continua a crescer”.

A Amnistia Internacional pretende agora trabalhar junto de activistas e jornalistas para “aprenderem a usar o sistema e fazerem testes de diagnóstico regulares nos seus equipamentos”.

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