Algoritmos devem ser alterados para dificultar acesso a conteúdo extremista na Internet

Estudo conclui que é "demasiado fácil" encontrar conteúdo com ligações ao Estado Islâmico na Internet e sugere que as empresas de tecnologia alterem os seus algoritmos para aumentar a segurança dos internautas.

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São vários os casos de terroristas recrutados através da Internet MARTIN BUREAU/AFP

Todos os meses, quase meio milhão de pesquisas feitas no Google resultam em conteúdos com ligações a material do autoproclamado Estado Islâmico. A denúncia é feita por um grupo de investigadores que sugere à empresa que detém o motor de busca que elimine o conteúdo extremista, a fim de dificultar a sua propagação.

“Muitos dos sites académicos islâmicos alojam material extremista, incluindo material jihadista, muitas vezes sem avisos ou restrições”, alerta o estudo Uma guerra de palavras-chave, citado pelo The Guardian. É o caso de sites “que oferecem conteúdo tradicional islâmico, bem como material extremista”, denuncia o estudo. É fácil, por isso, encontrar – mesmo que involuntariamente – conteúdo extremista enquanto se lê literatura islâmica, aponta o documento.

Bastam algumas palavras-chave específicas e os resultados devolvidos mostram em 44% dos casos violência explícita relacionada com o Estado Islâmico. Apenas dois em cada dez casos apresentam apenas conteúdo político e 36% devolvem resultados não-violentos.

Por essa razão, os autores do estudo afirmam que o algoritmo do Google falha a sua missão de controlar e combater a partilha de mensagens extremistas na Internet. O estudo acrescenta ainda que o esforço dos governos e de alguns grupos cívicos em construir uma contra narrativa para combater estas pesquisas são “insuficientes” e não estão a conseguir resultados.

Para efeitos de análise dos resultados de pesquisa efectuados, foram analisadas 287 palavras-chave pesquisadas no Google, das quais 143 em inglês e 144 em árabe. Numa segunda fase, os investigadores concentraram-se na análise de 47 palavras-chave utilizadas mais frequentemente e num grupo de expressões que remetem para resultados mais extremistas. O grupo focou-se então nos resultados apresentados nas duas primeiras páginas de pesquisa.

Algumas das palavras mais pesquisadas são crusader (cruzador), mártir, kafir (não-crente) e khilafah. A exemplo, na pesquisa do termo khilafah, que conta uma média de dez mil pesquisas mensais, os resultados extremistas são de nove para um resultado de conteúdo de contra narrativa.

A culpa, afirma o estudo, é do desenho do algoritmo do motor de busca, que não permite aos sites de contra narrativa optimizarem a sua presença nos resultados de pesquisa.

O relatório, conduzido pela empresa Digitalis e pelo Centro de Religião e Geopolítica (uma organização fundada pelo antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair), chega poucos dias depois dos ataques em Nice e na Alemanha, alguns deles protagonizados por jovens radicalizados através da Internet ou que usavam as redes sociais para fazer publicações que incitavam a violência. Também na Síria são muitos os grupos de radicais islâmicos, os chamados “combatentes estrangeiros”, recrutados através da Internet, que abandonaram as suas famílias e países para lutar nas fileiras desta grupo terrorista.

Os autores do estudo reconhecem as dificuldades em monitorizar as cerca de 40 mil pesquisas por segundo, num total de 2500 milhões por dia em todo o mundo, mas apelam à colaboração entre os governos, as Nações Unidas, empresas de tecnologia, grupos da sociedade civil e organizações religiosas que “tornem a Internet um lugar mais seguro”.

Como solução propõem a adaptação dos algoritmos de pesquisa que funcionem como filtros e o recurso a restrições, bloqueios e avisos de conteúdo violento nos sites.

Um porta-voz da Google citado pelo jornal britânico garante que a empresa está a estudar formas de "remover conteúdo ilegal de todas as plataformas, incluindo da pesquisa" e tem trabalhado com organizações mundiais para promover o trabalho de narrativas de combate ao discurso extremista.

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