A maçã-relógio

As mulheres e os homens com que vivemos são os nossos melhores críticos. Como gostam de nós, só fazem pouco das nossas piores características: as que angustiam toda a gente.

A Maria João é, como eu, uma "macmaníaca": incapaz de ser objectiva com os objectos Apple que caem da macieira.

Atura-me a falar dos discos da Apple, que pertencia aos Beatles, e da loja em Londres que tiveram. Faliu por deixarem roubar roupa a quem não tinha dinheiro para comprá-la.

Ela sabe que eu disse mal do iPhone e do iPad e depois cedi, encantado, com uma volúpia desnecessária.

É triste confessá-lo, mas é verdade: desde que a Apple começou, não há produto que eu não tenha primeiro criticado e depois comprado e agradecido.

Desta vez, é o Apple Watch. É feio e depende de um iPhone. Tem uma versão de ouro, caríssima, para exibicionistas que não têm dinheiro para comprar um bom relógio suíço.

Amaldiçoei-o. A Maria João concordou. Chamou-lhe a "pulseira electrónica". Tem razão. Prende-nos ainda mais do que já estávamos: Umberto Eco foi o primeiro a denunciar que os telemóveis transformam-nos todos em escravos.

Josh Dzieza, escrevendo online para The Verge (procure logo que possa), descobriu que o Apple Watch é uma maquineta que serve para usarmos menos o maçador iPhone. Não é uma novidade: é um penso.

A Maria João sabe que eu não só acabarei como começarei por comprar o Apple Watch logo que eu possa. Que posso eu dizer, neste momento de dúvida?

Só esta palavra: não!

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