A aventura digital de quem procura curar o irmão por entre ruínas inundadas

Submerged tem as bases para uma aventura interessante, infelizmente a execução fica aquém.

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Uppercut Games

Demora-se muito pouco tempo a dedicar atenção a Submerged quando percebemos que é uma irmã e um irmão mais novo que chegam de barcaça às ruínas de uma cidade parcialmente submersa. Jogamos como Miku, a irmã, que procura desesperadamente itens que curem Taku, o irmão ferido. E logo o jogador questiona-se por onde vai a narrativa e inevitavelmente qual será o seu desfecho — será a cura alcançável e qual é o preço a pagar.

A cidade é indubitavelmente a terceira personagem. Pouco depois de arranjar um lugar para deitar o irmão inanimado, a jogabilidade de Submerged começa a aflorar e não é preciso muito para se fazer entender. Como estamos em cenário destruído, temos que usar a já mencionada barcaça a motor para ir explorando à procura do que resistiu e permanece superfície.

E que início: precisamos de encontrar algo para parar a hemorragia de Taku. O jogo oferece orientações para o primeiro local a explorar. E trepamos as suas paredes tal como séries como Assassin’s Creed e Uncharted nos ensinaram: pelas saliências, canos, escadas, que os designers deixaram para os jogadores.

Mal recolhemos o item pretendido, uma pequena cena de vídeo corre e regressamos ao leito do nosso irmão. Próximo objectivo, a mesma mecânica. Agora o jogo já não dá dicas. Temos um telescópio que nos permite visualizar a distância à procura de pontos de interesse que são automaticamente assinalados no mapa. Encontramos facilmente para onde temos que ir: nova viagem de barco, nova escalada, nova cena de vídeo, regresso ao mesmo leito.

Terceiro item que é preciso encontrar, o mesmo exercício; quarto e começa a ser rotina. Ou seja, com algumas variáveis que já serão mencionadas, o cerne da jogabilidade não muda, ajusta-se ligeiramente. Submerged mostra os seus trunfos demasiado cedo e quando precisa de relevância para que a vontade do jogador não seja a de tarefa, plissa e acaba por ficar aquém.

Não há combates e isso não é um problema, outros jogos são excelsos nesse tipo de abordagem. Porém, aqui a jogabilidade é repetitiva e o sentido de exploração e aventura cedo cai por terra. Vamos descobrindo pequenos desenhos rupestres que tentam explicar a narrativa até este momento, sendo dados ao jogador pistas sobre o que está a jogar.

Além de procuramos estes itens que permitem, por exemplo, coser e desinfectar a ferida do irmão, fazê-lo recuperar a força ou aliviar-lhe as dores, existem vários segredos que podem ser mapeados e que ajudam a prolongar a longevidade para além das três horas, contudo, nunca há um tónico que refresque o que temos pela frente.

Escalar os edifícios nunca chega a ser um desafio, mesmo aqueles providos de vários caminhos. Mesmo que errem, é provável que acabem inadvertidamente por encontrar um segredo e passados alguns minutos estão no caminho certo. Todavia, ocasionalmente existem alguns percalços no reconhecimento da direcção dada pelo jogador, ou seja, indicar que queremos ir para um lado e a personagem sobe: são ligeiros toques que não danificam o cômputo geral além de patrocinarem alguma frustração momentânea.

E Submerged tinha muito mais para oferecer. O conceito é interessante e merecia ser mais explorado e, sobretudo, mais abrangente. Conforme o irmão vai resplandecendo, a irmã vai esteticamente decaindo, o que servia facilmente para elaboração, pois nem no final o jogador sente um ponto final marcado a fogo.

Não há um caminho definido nem uma ordem dos edifícios que vão explorando e ainda que não seja uma mapa de grandes proporções, os melhores momentos são aqueles em que se está a explorar os lugares mais recônditos, sozinhos na barcaça com o telescópico apontado à procura de pontos de interesse, descobrindo os já mencionados segredos, peças que melhoram o barco e lhe permite usufruir de turbo durante mais tempo.

E é um cenário que merece ser mencionado. Com algumas incongruências de premeio, quando tudo se conjuga a favor do usado dado ao Unreal Engine 4, alguns momentos são memoráveis. O ciclo de noite/dia em tempo real, a chuva e o nevoeiro, a ondulação, algumas figuras que graças à submersão parcial apresentam-se cheias de mistério e algumas criaturas marítimas que nadam ao nosso lado.

Os próprios edifícios apresentam alguns detalhes assinaláveis: flores vermelhas que guiam o processo de escalada, o verde da flora e o verde que assinala o desgaste e o abandono, brilhos e reflexos variados, enfim, uma panóplia de arranjos atmosféricos que resultam. Infelizmente, no outro prato da balança estão texturas desenxabidas, expressões faciais plásticas, movimentos rombos da protagonista.

Mas o ponto técnico mais alto é a banda sonora assinada por Jeff van Dyck. Praticamente sempre no ponto, complementa extremamente bem a ausência de vocalização das personagens, expressando as várias emoções, os pontos que merecem ser sublinhados. O texto de Submerged é apresentado em português, uma nota que facilitará a navegação aos jogadores menos fluentes em inglês.

O conceito e o arranque de Submerged prometem bastante e em alguns momentos consegue laivos do jogo que podia ter sido. Não é um caso perdido de mediocridade do arranque aos créditos, longe disso, porém, também não coloca na prática o seu potencial. Navegar e explorar tem um limite; olhar e admirar as criaturas e as ruínas tem um limite. Se Submerged for um testar das águas, a equipa tem a competência para entregar algo mais memorável na sua continuação.

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