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Dois amigos e uma tese

Quando os dois jovens que viriam a fundar o Google se conheceram, antipatizaram um com o outro quase de imediato. Estávamos no Verão de 1995. A World Wide Web tinha sido inventada uns cinco anos antes por um engenheiro britânico a trabalhar no CERN, o centro de física de partículas na Suíça, e começavam então a surgir nos EUA as primeiras empresas a aproveitar comercialmente a nova tecnologia: o eBay, a Amazon, o Yahoo.

Larry Page e Sergey Brin, fotografados em 2006 Kimberly White/Reuters

Larry Page, com 22 anos e recém-licenciado em engenharia informática, tinha decidido fazer uma visita à prestigiada Universidade Stanford, onde ponderava fazer um doutoramento. Sergey Brin, praticamente da mesma idade, já era aluno de doutoramento naquela universidade e estava a fazer visitas guiadas a grupos de estudantes interessados em matricular-se. Page calhou num grupo guiado por Brin e passaram parte do tempo a discutir. “Achei-o desagradável. Ele tinha opiniões muito fortes sobre as coisas, e acho que eu também”, resumiu Page anos mais tarde.

Apesar disso, Page inscreveu-se em Stanford e os dois acabaram por tornar-se amigos. Tinham nascido em países diferentes, mas tinham muito em comum. Page nasceu no estado americano do Michigan. O pai era doutorado em computação e a mãe dava aulas de programação informática na universidade. Sergey Brin nasceu em Moscovo, mas foi em criança para os EUA. O pai era professor universitário de matemática e mãe era investigadora da NASA.

Para a sua tese de doutoramento, Page decidiu analisar os links que as páginas Web faziam umas para as outras. Os documentos interligados na Internet eram então uma novidade suficientemente recente para despertar a atenção do meio académico.

Juntamente com Brin e outros amigos do campus, desenvolveu um software para percorrer a Web e hierarquizar as páginas consoante o número de links que recebiam de outras páginas. Estes links, porém, não tinham todos o mesmo peso: quantos mais links uma página recebesse, mais peso tinham os seus links para outras páginas. A este algoritmo, que ainda hoje é usado pelo Google, Page chamou, num artigo científico, PageRank. É uma referência ao próprio nome do autor.

Page e Brin chamaram BackRub ao software para percorrer a web e disponibilizaram-no no site da universidade em 1996. O BackRub não era um motor de busca, mas foi o princípio do que viria a ser o Google.

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Nasce um motor de busca

Larry Page e Sergey Brin aperceberam-se de que o BackRub permitia melhores resultados de pesquisa do que muitos dos motores de busca da altura. Decidiram então criar o Google. O nome é uma adaptação da palavra gogol, um termo matemático que designa um número que é um 1 seguido de 100 zeros:

10000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000.

A primeira versão do Google começou por funcionar dentro do site da Universidade Stanford. Um pouco depois, a 15 de Setembro de 1997, os dois estudantes registaram o domínio Google.com. Cerca de um ano mais tarde, a 4 de Setembro de 1998, com dinheiro de amigos, familiares e investidores, os dois estudantes (já com os doutoramentos em pausa) criaram a empresa que anos depois iria transformar-se numa gigantesca multinacional. Apesar daquelas datas, o Google decidiu que celebra o aniversário a 27 de Setembro.

O campus de Stanford, onde o Google nasceu Beck Diefenbach/Reuters

Na altura em que o Google foi lançado, os motores de busca eram muito mais simples. Para além do Google, havia serviços como o AltaVista, o Lycos e o AskJeeves. Essencialmente, permitiam aos utilizadores encontrar páginas que contivessem as palavras pesquisadas. Hoje, pesquisar num motor como o Google significa ter resultados personalizados, que pretendem ir ao encontro do que possam ser as necessidades da pessoa que faz a busca.

Pesquisar a palavra “tempo”, por exemplo, mostra imediatamente a meteorologia para o local onde o utilizador se encontra, e não uma lista de páginas Web com aquela palavra. Pesquisar “restaurante” permite obter uma série de sugestões, como o local no mapa, pontuação e crítica dos utilizadores, horários de funcionamento e números de telefone.

O próprio Google tem um truque para mostrar como era fazer uma pesquisa em 1998. Basta fazer uma busca por “Google in 1998”.

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Dores de crescimento

Em 2001, quando o Google já era um site conhecido, Larry Page decidiu convocar os trabalhadores da empresa para uma reunião geral e anunciar o despedimento de boa parte das chefias intermédias e dos funcionários que não eram engenheiros.

O motor de busca tinha crescido em utilizadores e páginas indexadas, e o número de funcionários era agora muito maior do que nos anos inciais. Mas Page e Brin estavam descontentes. Não gostavam de muitos dos gestores, que tinham vindo de empresas como a Microsoft, e tinham em muito melhor conta os informáticos. Também queriam algo que funcionasse de uma forma mais próxima da desorganização criativa dos primeiros tempos, quando aquela ainda era uma pequena startup.

O caos que se seguiu ao despedimento acabou por ser resolvido pelo experiente Eric Schmidt, que assumiu as funções de presidente executivo em Agosto de 2001, apenas um mês após a decisão bombástica de Page.

A sucessão já era esperada. Eric Schmidt era um executivo de 46 anos, com um percurso no sector tecnológico. Tinha sido escolhido pelos próprios fundadores do Google e, desde Março, integrava o conselho de administração. Page e Brin tinham sido persuadidos pelos investidores de que era preciso alguém mais experiente a gerir o quotidiano do Google, agora que a empresa tinha crescido. Em Agosto, Schmidt assumiu as rédeas.

Eric Schmidt, Larry Page e Sergey Brin, durante uma conferência de imprensa, em 2008 Rick Wilking/Reuters

Foi quatro anos mais tarde, a 20 de Agosto de 2004, que o Google deu um passo importante na sua transformação de startup em mastodonte tecnológico: entrou em bolsa. Larry Page, com 31 anos, e Sergey Brin, que estava a um dia de os fazer, tornaram-se multimilionários com fortunas colossais.

Livres da gestão quotidiana, os dois fundadores tinham tempo e dinheiro para todo o tipo de projectos. Um deles foi um sistema operativo para telemóveis. Em 2005, Page decidiu comprar uma empresa chamada Android por uma bagatela de 50 milhões de dólares. Hoje, o Android é disponibilizado a qualquer fabricante que o queira integrar nos seus aparelhos e é o sistema operativo mais usado no mundo. Dá ao Google uma porta de entrada privilegiada nos telemóveis de milhões de pessoas (uma vantagem que ainda este ano valeu à multinacional uma multa pesada por parte da Comissão Europeia, que considerou que a empresa infringiu as leis da concorrência).

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O vasto universo

Ao longo dos anos, o Google foi-se transformando numa constelação de serviços e produtos. Nem todos foram bem sucedidos, mas muitos moldaram a forma como usamos a Internet, enquanto outros estão a explorar novas fronteiras em áreas como a inteligência artificial e a condução autónoma.

Em 2004, foi lançado o Gmail. Com a oferta de 1GB de espaço de armazenamento, ficava muito longe do que a concorrência (incluindo o Hotmail, da Microsoft) permitia. O Gmail acabou por tornar-se num produto para utilizadores individuais e empresas, por alargar-se com a oferta de serviços de agenda e contactos, e por tornar-se um elemento central na estratégia da empresa: a conta do Gmail serve agora para entrar na multiplicidade de serviços do Google.

Já em 2006, a empresa comprou o YouTube por 1650 milhões de dólares. Na altura, o site de vídeos criado por Chad Hurley e Steve Chen tinha 67 funcionários e não dava lucro. Mesmo para os padrões de Silicon Valley, o valor do negócio era avultado. Actualmente, o YouTube é o maior serviço de vídeos do mundo, permitindo a milhões de utilizadores consumirem conteúdos e servindo de plataforma para criadores que ganham fama e, em alguns casos, muito dinheiro.

O Google tem ainda um projecto de carros autónomos, que já são capazes de se conduzirem por estradas sem intervenção de um condutor humano, e é dono de uma empresa britânica de inteligência artificial chamada DeepMind, que desenvolveu sistemas capazes de derrotarem os melhores humanos no jogo de Go, um jogo de estratégia mais complexo do que o xadrez.

Foi numa altura em que o Google já era um gigante que Larry Page regressou ao cargo de presidente executivo. Em Abril de 2011, com 38 anos e o cabelo grisalho, o fundador ocupou o lugar de Eric Schmidt, que escreveu na despedida uma frase que ficou conhecida na história da tecnologia: “Já não é preciso supervisão adulta no dia-a-dia.” Sergey Brin ficou com a responsabilidade de pensar em novos produtos. Foi Brin quem apadrinhou, por exemplo, os Google Glass, uns óculos de realidade aumentada que o Google nunca conseguiu que se massificassem.

Há três anos, a empresa sofreu uma reestruturação. Foi criada uma empresa de topo chamada Alphabet, que passou a agregar os vários negócios que estavam sob o chapéu do Google e que é a empresa cotada em bolsa.

Sundar Pichai, presidente do Google desde a criação do grupo Alphabet Stephen Lam/Reuters

“A Alphabet é sobretudo uma colecção de empresas. A maior das quais, claro, é o Google”, explicou Page na altura. A empresa Google tem os serviços online, como o motor de busca, e o negócio da publicidade online. É dirigida por Sundar Pichai, um executivo que foi subindo a escada interna e que já teve sob a sua alçada produtos como o navegador Chrome e o Android.

No ano passado, a Alphabet facturou perto de 111 mil milhões de dólares. Emprega directamente 86 mil pessoas.

Em 2014, numa entrevista no palco da influente conferência TED, Larry Page explicou que o objectivo do Google é tentar trabalhar naquilo que vai ser o futuro. “Tento focar-me nisso: como é que esse futuro vai ser e como é que o vamos criar. É curiosidade, é olhar para coisas em que as pessoas possam não estar a pensar, trabalhar em coisas em que mais ninguém está a trabalhar.”

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O que é isto?

O Google começou como um projecto universitário e acabou por se tornar num titã com uma influência profunda na forma como milhões de pessoas em todo o planeta usam a Internet.

Pode ver uma versão deste página inspirada numa das primeiras versões do Google, lançada em 1998 por Larry Page e Sergey Brin, para explorar a história de uma empresa que ajudou a moldar as últimas duas décadas e cujo impacto no mundo ainda está longe de ter terminado.Esta página inspirou-se numa das primeiras versões do Google, lançada em 1998 por Larry Page e Sergey Brin, para explorar a história de uma empresa que ajudou a moldar as últimas duas décadas e cujo impacto no mundo ainda está longe de ter terminado.

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Arnd Wiegmann/Reuters

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