O início de Philip Roth

Distinguido há poucas semanas com o Prémio Príncipe das Astúrias das Letras e eterno candidato ao Nobel da Literatura, Philip Roth é um dos nomes incontornáveis da literatura contemporânea (norte-americana e não só). A sua obra tem vindo a ser reeditada, e muito justamente, pela editora Dom Quixote, que, nos últimos anos, devolveu às livrarias romances tão fundamentais como O Complexo de Portnoy ou Pastoral Americana. É assim que, poucos meses depois da edição de Némesis, o mais recente livro de Roth, se pode também ler Goodbye Columbus, aquela que foi, precisamente, a obra de estreia do criador de Nathan Zuckerman.

Novela de costumes, Goodbye Columbus apresenta já algumas das marcas essenciais da obra de Roth, nomeadamente o mergulho descomplexado e mordaz pelos arquétipos da comunidade judaica norte-americana e pelos subúrbios de Nova Iorque. Neil Klugman é, neste caso, um jovem intelectual, funcionário de uma biblioteca pública dos arredores da grande cidade, apaixonado por Brenda Patimkin, filha de uma família judia burguesa e relativamente abastada. O livro traça um retrato irónico e impiedoso das diferenças sociais que, no pós-guerra, compunham a comunidade judaica norte-americana. Mais do que a clássica história do rapaz-que-conhece-a-rapariga-e-tal, Goodbye Columbus é, sobretudo, a primeira tentativa de Roth para compreender e analisar o esforço dos judeus para se integrarem na sociedade americana, seja enquanto pequenos industriais com óbvios sinais de novo-riquismo, seja enquanto membros da intelectualidade, tema a que, de resto, o escritor voltaria em várias obras posteriores.

Na edição portuguesa, Goodbye Columbus (publicado originalmente no final da década de 1950) vem ainda acompanhado por cinco contos, permitindo, assim, o contacto com uma das facetas menos conhecidas do escritor norte-americano. Jorge Marmelo

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