Vigilância aos fogos nas áreas protegidas reduzida para menos de metade

Sapadores florestais passam a estar alocados a perímetros florestais e matas nacionais fora das áreas protegidas

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Nos últimos anos aumentou o número de turistas que visitam o concelho, sobretudo após a classificação do parque, em 2009, como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO Adriano Miranda

O presidente da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza, Francisco Correia, mostrou-se esta terça-feira muito preocupado com a redução das equipas de vigilância e primeira intervenção dos fogos florestais nas áreas protegidas.

A edição desta terça-feira do Jornal de Notícias refere que "o Instituto de Conservação da Natureza e Floresta (ICNF) tem menos 32 equipas e menos 163 elementos de vigilância de primeira intervenção em incêndios nas áreas protegidas".
O jornal chegou a esta conclusão através "da comparação dos dados sobre os meios do ICNF associados às áreas protegidas constantes nos dispositivos especiais de combate aos incêndios florestais deste ano e dos anos anteriores".

"Em 2011, 2012 e 2013, só para as áreas protegidas (excluindo as matas nacionais) o ICNF indicou 58 equipas e 238 elementos, incluindo sapadores florestais. Em contrapartida, os meios alocados em 2014 directamente àqueles espaços são 26 equipas e 75 vigilantes da natureza (não há sapadores) -- menos 32 equipas e 163 operacionais", explica.
Francisco Correia disse à agência Lusa que, "para constituir equipas de primeira intervenção, o mais seguro seria haver cinco elementos por cada equipa", sendo três o limite mínimo.

"Estão a ser generosos, porque se forem de cinco elementos então o número de equipas diminui drasticamente", frisou.
Na sua opinião, vai colocar-se um problema de efectivos, porque "as pessoas têm que descansar e, quando estiverem de folga, de certeza que não haverá elementos no terreno".

O dirigente explicou que em Portugal só existem 120 vigilantes da natureza, responsáveis pela vigilância, fiscalização, monitorização das espécies e, na altura do Verão, também pela primeira intervenção em incêndios florestais."São poucos e muitos deles estão em reservas marinhas que não precisam de protecção aos incêndios", acrescentou.

Francisco Correia lamentou que "a política destes últimos governos tenha consistido em diminuir cada vez mais o número de vigilantes da natureza", ao contrário do que acontece, por exemplo, em Espanha, onde há mais de sete mil. No seu entender, o facto de não estarem previstos sapadores florestais para a primeira intervenção nas áreas protegidas ainda agrava mais a situação. Estes profissionais vão estar alocados aos 27 perímetros florestais e matas nacionais, zonas geridas pelo Estado mas que ficam fora das áreas protegidas. 

"Os sapadores florestais davam uma grande ajuda aos vigilantes da natureza. Os vigilantes da natureza conheciam o terreno e os sapadores eram pessoas jovens, com agilidade e força. Sem eles vai ser muito pior", alertou.

A promessa de activação, na fase Charlie (de 1 de Julho a 30 de Setembro), de um efectivo da Força Especial de Bombeiros e do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro da GNR não deixa Francisco Correia mais descansado. "É um grande risco para estas forças, porque vão para um terreno que não conhecem e correm risco de vida. Os vigilantes da natureza é que eram os indicados para fazer este trabalho de interligação com os bombeiros, só que são tão poucos que não conseguem estar em todo o lado", acrescentou.

O presidente da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza, Nuno Sequeira, lamentou o "desinvestimento do Estado nas questões relacionadas com a conservação da natureza" e mostrou-se preocupado com os meios referidos na notícia para a primeira intervenção aos incêndios nas áreas protegidas no próximo Verão. "Estamos a falar de uma situação para a qual deveria ser dada prioridade máxima da parte do Estado. Estamos a falar das zonas que são mais representativas e emblemáticas do nosso património natural", frisou.

Neste âmbito, e se não estiver prevista uma "substituição directa de equipas unicamente destinadas às áreas protegidas, por outras equipas unicamente destinadas às áreas protegidas", Nuno Sequeira considera que se trata de "uma situação bastante preocupante", porque "devia ser dada uma prioridade máxima a esta primeira intervenção".

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