Ver ou não ver, eis a diferença

Violência na escola, no estádio, na cidade, no mar. Figueira da Foz, Guimarães, Salvaterra, Indonésia. Quatro episódios que ocuparam por estes dias os noticiários, as conversas, as emoções e as reacções. “Acto de violentar”, “brutalidade”, “opressão”, “crueldade” são alguns dos significados que os dicionários registam para a triste palavra desta semana, “violência”.

O primeiro caso não é recente (do jovem esbofeteado por colegas de escola), mas só agora foi visto. E é lamentável ter sido dado a conhecer por todo o lado com os rostos a descoberto. Para quem já tinha sido vítima, foi uma violência sobre outra.

O segundo (do homem agredido por polícia em frente aos filhos depois de um jogo de futebol) foi no domingo passado e visto imediatamente. E repetido e repetido e repetido. Não é banalização da violência, é exaustão. (E procura de audiências.)

Sobre o crime de Salvaterra de Magos (jovem de 17 anos mata outro de 14) é uma violência falar.

O quarto (dos migrantes à deriva ao largo da Indonésia) foi e continua a ser o mais invisível. Houve alguns salvamentos e relatos de que os ocupantes de um barco, que se estava a afundar, estariam “em vias de se matar uns aos outros (…) Como o barco tinha peso a mais, quiseram desembaraçar-se de uma parte das pessoas, que estavam provavelmente a procurar defender-se”.

Já foram avistados 7000 migrantes à deriva. De cada vez que os barcos tentaram aproximar-se de terra, foram rebocados de novo para alto-mar. “Desumanidade”, conclui o dicionário. Nós também.

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