Vacina contra cancro do colo do útero dada em duas doses a partir dos 10 anos

Perto de meio milhão de portuguesas já foram vacinadas contra o vírus do papiloma humano.

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Em Portugal, são diagnosticados todos os anos cerca de mil novos casos de cancro do colo do útero Paulo Ricca/Arquivo

Desde 2008 que as adolescentes portuguesas receberam três doses da vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV) para protecção contra a maior parte dos cancros do colo do útero. A partir de quarta-feira, mudam as regras: as raparigas passam a ser vacinadas com apenas duas doses e o início da imunização foi antecipado dos 13 para os 10 anos, informa a Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Esta mudança “não visa poupar dinheiro”, garante o director-geral da Saúde, Francisco George, que adianta que foi o próprio laboratório que comercializa a vacina integrada no Plano Nacional de Vacinação (PNV), a Gardasil, a sugerir esta alteração depois de concluir que duas doses são suficientes para garantir uma imunização satisfatória.

Seguindo as recomendações do laboratório Sanofi Pasteur MSD, a Comissão Técnica de Vacinação, o grupo de especialistas que aconselha os responsáveis da DGS,  propôs que a imunização em duas doses fosse integrada no PNV num esquema com um intervalo de seis meses, e estipulou que a vacina devia ser administrada entre os 10 e os 13 anos inclusivé. O objectivo foi o de fazer coincidir a vacinação contra o HPV com a imunização contra o tétano e a difteria, “para facilitar a vida das pessoas”, explica a subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas.

"Foi o próprio laboratório que, depois de fazer ensaios clínicos que provaram que duas doses garantiam imunização suficiente, decidiu fazer esta recomendação", enfatiza Graça Freitas, que nota que o novo esquema "só apresenta vantagens". "São menos doses, menos picadas, menor custo, menos reacções adversas", sintetiza.

Isto significa que as adolescentes já vacinadas com o esquema inicialmente proposto receberam uma sobredosagem? “Claro que não. Não há rigorosamente nenhuma implicação. É a mesma coisa que mandar tomar antibióticos durante sete dias ou três dias”, desvalorizou a médica, que nota que “as vacinas ideais só têm uma dose” até para garantir a máxima adesão. “É uma mudança trivial, não tem problema”, corrobora o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina  Materno-Fetal, Luís Graça. Sem ver também qualquer tipo de implicação negativa, a pediatra Maria do Céu Machado lembra, a propósito, que o mesmo já aconteceu com outras vacinas recentemente. "São vacinas que surgiram nos últimos anos e, quando foram integradas no PNV, ainda havia poucos estudos", explica.

Em Abril deste ano, a Sanofi Pasteur MSD já tinha anunciado, aliás, que a Comissão Europeia autorizara o esquema de vacinação em duas doses, para crianças entre os 9 e os 13 anos. Este esquema, explicou então o vice-presidente da empresa, Stephen Lockhart, “baseia-se em dados que demonstraram que duas doses garantem uma resposta imunitária nas adolescentes comparável  à das três doses nas jovens para os quatro tipos de HPV – 6,11,16 e 18 – incluídos na Gardasil”. “Estes resultados estão assegurados três anos após a vacinação”, acrescentou. 

Em Portugal, nesta fase inicial, e uma vez que a idade em que a vacinação pode ser feita foi antecipada, a afluência aos centros de saúde onde a Gardasil é dada deverá aumentar e a DGS já está preparada para um acréscimo da procura, mas mais tarde a situação ficará normalizada, prevê Graça Freitas.

“As raparigas que se atrasem na vacinação relativamente à idade recomendada podem iniciá-la até aos 18 anos exclusive" e as que já fizeram pelo menos uma dose podem completar a imunização "gratuitamente até aos 25 anos de idade”, explicita ainda a DGS, na norma divulgada terça-feira.

A introdução desta vacina no PNV foi aprovada em Março de 2008 e a vacinação iniciou-se em Outubro desse ano. Nessa altura, foram vacinadas as raparigas nascidas em 1995 e que tinham então 13 anos, tendo esta idade sido fixada porque se partiu do pressuposto que nesta fase as jovens ainda não teriam iniciado a sua vida sexual.

Em cada ano foram vacinadas perto 50 mil raparigas, rondando a taxa de cobertura os 90%, em média, ainda que em alguns anos fosse menor e se tivesse percebido que algumas jovens não faziam a última dose. Em simultâneo, a a DGS avançou com uma campanha de três anos que abrangeu também as jovens nascidas em 1992, 1993 e 1994. Até à data, no total, já terão sido vacinadas cerca de 450 mil jovens, calcula Graça Freitas. "As raparigas e as famílias aceitaram muito bem e os serviços organizaram-se para lhes dar resposta,", frisa.

Com 17 casos de cancro do colo do útero por cem mil habitantes e cerca de mil novos doentes são diagnosticados em cada ano,  Portugal tem uma das mais elevadas incidências deste tipo de tumor na Europa Ocidental. Por ano morrem cerca de três centenas de mulheres com cancro de colo do útero. 

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