Universidades ibéricas vão pressionar governos a apoiar candidaturas para fundos europeus

As universidades de Portugal e Espanha vão apresentar propostas conjuntas ao próximo quadro europeu de financiamento e querem, para isso, garantir o apoio dos governos dos dois países. "Juntos somos mais que França", argumentam

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Universidades querem atrair estudantes da América Latina para a Península Ibérica Rui Gaudêncio (arquivo)

Os reitores ibéricos estabeleceram, esta terça-feira, em Braga, um compromisso para fazerem pressão junto dos executivos e parlamentos nacionais e de Bruxelas tendo em vista a captação de fundos comunitários. Com este acordo, as instituições de ensino superior esperam também facilitar a atracção de estudantes da América Latina para a Península Ibérica.

O quadro de financiamento do Horizonte 2020 e programas europeus como o Erasmus Mais foram os chamarizes para esta aproximação sem precedentes entre as universidades dos dois países. Com a Europa a apontar para as chamadas estratégias de desenvolvimento inteligente, baseadas na tecnologia e na transferência de conhecimento, as universidades têm um lugar central no investimento comunitário para os próximos anos. Os reitores de Portugal e Espanha acreditam que é possível “apresentar uma estratégia comum” aos respectivos governos.

“Pedimos que nos ajudem, já que da nossa parte faremos tudo o que seja possível para contribuir para uma nova Europa”, resume Manuel Lopez Pérez, reitor da Universidade de Saragoça e presidente do conselho de reitores espanhol. “Sem uma estratégia governamental não é possível negociar na União Europeia”, acrescenta o homólogo português, António Rendas, depois da reunião de dois dias que aconteceu no início desta semana em Braga.

As universidades dos dois países “têm perdido muito tempo de negociação com os governos para viabilizar o seu funcionamento”, defende o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). Essa realidade “muito lamentável” tem impedido as instituições de se concentrarem na negociação de projectos e financiamentos que “estão disponíveis no espaço europeu”.

"Juntos somos mais que França"
Além de convencerem os respectivos governos, as universidades ibéricas vão também tentar demonstrar, junto de Bruxelas, a força que eventuais projectos conjuntos podem ter para a União. Além da proximidade geográfica e das semelhanças históricas, culturais e linguísticas entre os dois países, há também uma questão de escala que pode ser uma mais-valia. “Juntos somos mais que França”, ilustra o líder dos reitores espanhóis.

Outro dos objectivos deste acordo é a captação de estudantes internacionais dos países da América Latina para estudarem nas universidades dos dois países ibéricos, aproveitando a proximidade linguística entre as duas regiões, anunciaram também os reitores de Portugal e Espanha.

Nos últimos anos as universidades dos dois países têm reunido com pouca frequência. O último encontro tinha antes do que esta terça-feira terminou em Braga tinha acontecido em 2010. Antes disso, é preciso recuar até 2006 para que haja registos de uma cimeira ibérica universitária. Agora, as instituições comprometeram-se com um calendário mais regular de reuniões. A próxima acontece em Junho, em Portugal, voltando os responsáveis a reunir-se no mês seguinte, em Madrid. As universidades portuguesas e espanholas vão também participar conjuntamente na reunião do Verão da rede ibero-americana Universia, no Rio de Janeiro (Brasil) e, em Outubro, na conferência universitária ibero-americana, que deverá ter lugar em Salamanca.

CRUP quer novas regras para definição de vagas
À margem do acordo entre as universidades ibéricas, o presidente do CRUP, António Rendas, deixou avisos ao governo numa altura em que se aproxima a fase final da preparação do próximo ano lectivo. O Ministério da Educação e Ciência deverá publicar, em breve, o despacho que regulamenta os critérios para a abertura de vagas nos cursos superiores e, para os reitores, “é muito importante que não se repitam os erros que foram feitos no passado”.

Rendas lembra que a definição de critérios geográficos para a fixação da oferta e o uso de dados sobre empregabilidade dos cursos “que não eram devidamente fundamentados” adoptada pelo governo ano passado causaram muitos problemas às instituições e, por isso, o CRUP pretende um modelo de oferta curricular semelhante ao que foi usado no concurso nacional de acesso de há dois anos. “Permitia alguma flexibilidade nas estratégias de acesso”, defende. 

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