Universidade de São José de Macau rescinde com professor devido às “suas convicções”

Professor de Ciência Política é habitual comentador político local.

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macau macau sergio gomes

A Universidade de São José, em Macau, rescindiu o contrato com o comentador político Éric Sautedé devido às suas "convicções", sustenta uma nota entregue a alunos e professores a que a agência Lusa teve acesso.

Na nota enviada pelo padre Peter Stilwell, reitor da universidade ligada à Universidade Católica e à diocese de Macau, é sublinhado que o professor "não foi alvo de procedimento disciplinar" e que a rescisão se prende com as "convicções" do professor, comentador político regular na imprensa local.

"As suas opções são respeitadas por mim e por muitos outros na Universidade de São José e, de facto, eu sei que são admiradas por alguns", escreve Peter Stilwell, salientando também que as convicções de Éric Sautedé se transformaram num "dilema" para si.

O professor de Ciência Política e habitual comentador político local foi informado da rescisão do seu contrato sem justa causa com a Universidade de São José, ligada à Universidade Católica Portuguesa e à diocese de Macau, depois de sete anos como docente da instituição.

Peter Stilwell justificou, primeiro, ao diário Ponto Final, que noticiou a saída do professor, com o facto de a igreja ter um princípio de não intervir no debate político dos locais onde está inserida, mas quando questionado pela agência Lusa sobre as opiniões manifestadas por prelados em todo o mundo, explicou que a decisão tomada por si está sustentada no "contexto" em que se insere a Universidade de São José, posição reforçada na carta.

Por outro lado, disse, a região onde está inserido Macau e a China "não é um prolongamento da Europa".

"Estamos num mundo com um sistema político distinto, com critérios e contextos distintos e este caso teria, na Europa, outra forma de ser gerido ou vivido", afirmou.

Peter Stilwell lembrou que a igreja não está alinhada com o poder nem com as oposições, "é uma instituição autónoma" o que "não significa falta de interesse" sobre as questões políticas.

"Mas cabe aos leigos católicos e mulheres decidirem, à luz da sua fé (…) como devem intervir como cidadãos cuidadosos e responsáveis", disse, salientando que, com algumas excepções em que há uma intervenção até de papas, "é a norma".

Na carta, o reitor reconheceu que a "questão financeira" também pesou na sua decisão.

"As questões financeiras foram tidas em conta neste processo?", questionou, dizendo que não nega "estar ciente dessas preocupações", mas que estas tiveram um "peso menor na ponderação da sua decisão".

Sobre a possibilidade da rescisão com Éric Sautedé ser negativa para a Universidade de São José, o reitor admite "ser possível", mas assume a "responsabilidade da decisão".

"Mais uma vez é preciso olhar o contexto. Está a ter eco na imprensa portuguesa e tanto quanto me dizem não é muito referido ainda na imprensa chinesa, e entre 70% a 80% dos nossos alunos são chineses", afirmou.

Instado a comentar eventuais outras saídas num processo de reestruturação da Universidade, o reitor negou, mas disse que "há um ou dois docentes que vão sair por opção própria".

Contactado pela agência Lusa, Éric Sautedé escusou-se a fazer "qualquer comentário sobre o caso" alegando que não falará do tema enquanto estiver ligado contratualmente à Universidade, como é seu dever.

O professor é um colaborador regular da imprensa local e aborda nos seus comentários algumas questões menos favoráveis ao executivo como aconteceu no caso da lei de benefícios dos titulares dos principais cargos políticos – que geraram o maior movimento de contestação ao Governo local, tendo a proposta sido mesmo retirada -, em que o politólogo salienta, por exemplo, que o vencimento do chefe do executivo de Macau é mais de três vezes superior ao do Presidente francês.

O académico, no entanto, faz normalmente uma avaliação das implicações das decisões políticas, contextualiza os assuntos e refere todo o conjunto de comentários sobre o tema que analisa.

 

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