Turistas enganados com contas bancárias falsas ficam sem dinheiro e sem casa de férias no Algarve

Contas são abertas com identidade falsa e polícia não consegue chegar aos responsáveis. Autoridades receberam 22 queixas por burlas relacionadas com o arrendamento fictício de imóveis

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Pedro Cunha/Arquivo

A tentativa de poupar dinheiro acaba por transformar alguns turistas nas vítimas perfeitas. Na maioria dos esquemas usados para burlar turistas à procura de uma casa de férias mais barata do que os hotéis no Algarve, a investigação policial acaba quase sempre por esbarrar numa conta bancária forjada. Surpreendidas com a descoberta de que foram enganadas, as vítimas fornecem às autoridades o número de identificação bancária dos burlões, mas as contas para onde transferiram o dinheiro são frequentemente abertas com identidade falsa. E encerradas rapidamente.

“Na maior parte dos casos, as pessoas fazem um acordo verbal e transferem o adiantamento para uma conta que não é do suspeito. E sendo a identidade falsa é difícil depois chegar ao responsável”, explica o tenente-coronel Paulo Oliveira da GNR de Faro.

Este ano, a GNR e a PSP receberam 22 queixas por burlas relacionadas com o arrendamento fictício de imóveis para férias no Algarve. Destas, 19 foram registadas na área da GNR e três na área da PSP. O número é inferior às 29 queixas registadas no ano passado, noticiou a agência Lusa.

Também o presidente da associação Algarve Safe Communities, David Thomas, confirma este expediente para enganar os veraneantes. “Temos conhecimento de que esse recurso é muito comum”, diz este ex-comissário da polícia de Hong Kong e antigo consultor da Interpol e das Nações Unidas, há vários anos a residir em Loulé. A  maioria das vítimas faz a reserva de alojamento em sites de anúncios particulares que apresentam imagens de moradias que depois se descobre não existirem ou que não estarem para arrendar. “Muitas vezes os turistas encontram lojas ou terrenos em vez das casas que achavam ter arrendado”, relata também o porta-voz da GNR de Faro, tenente-coronel José Palhau.

Em 2012 o Tribunal de Matosinhos condenou  a oito meses de pena de prisão suspensa um homem por ter burlado uma família que lhe transferira 900 euros para pagar adiantada uma quinzena numa vivenda com piscina em Castro Marim, Faro. Mas só foi apanhado por ter fornecido às vítimas um número de identificação bancária verdadeiro.

A PJ deteve um suspeito deste tipo de burlas no ano passado, mas em 2014 ainda não terão ocorrido detenções nas zonas patrulhadas pela GNR. Há investigações em curso, mas sem grandes esperanças de que os responsáveis pelos crimes venham a ser localizados.

“Aconselhamos os turistas a pesquisarem informações na Internet sobre a pessoa a quem estão a arrendar a casa, para verem se já alguém se queixou daquele nome. E é sempre mais seguro reservar através de intermediários oficiais, como agências de viagens, operadores turísticos ou centrais de reservas”, aconselha David Thomas, acrescentando que “o número de casos de burla conhecidos é baixo relativamente ao grande número de turistas no Algarve”. Isso, é “positivo e mostra que a situação não chegou ainda a um ponto alarmante”.

Também o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Elidério Viegas, insiste no aviso de que “é muito perigoso alugar casas directamente” sem “um intermediário turístico oficial”. Para além desse bolsa informal de imóveis “ser uma forma de concorrência desleal”, Elidério Viegas observa que “quase sempre é uma forma dos turistas serem burlados”. A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica e a Autoridade Tributária e Aduaneira deveriam “intensificar a fiscalização a este fenómeno”, refere.

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