Em Portugal a maioria toma comprimidos

Não existem dados precisos sobre o número de mulheres que fazem terapias hormonais da menopausa (THM) em Portugal, nem sobre o impacto que o estudo norte-americano WHI poderá ter tido sobre a atitude das mulheres face a estas terapias. Um estudo realizado por Raquel Lucas e Henrique Barros, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em mulheres do Porto entre 1998 e 2003, e que deverá ser publicado em breve na revista Maturitas, conclui porém que cerca de um quarto das portuenses com menopausa já recorreram a algum tipo de THM, sendo esta situação mais frequente nas classes mais favorecidas. Manuel Neves e Castro diz-nos ainda que a maioria das portuguesas que recorre a estas terapias toma comprimidos. Está na altura, continua, de escolherem outro tipo de terapia hormonal, à base de estrogénios transdérmicos. Uma hipótese são os implantes de estrogénios com a colocação no útero de um dispositivo que liberta progesterona. O tratamento só precisa de ser renovado uma vez por ano. A.G.

Tratamentos hormonais da menopausa afinal não trazem mais riscos de trombose

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Os acidentes cardiovasculares representam dois terços das ocorrências graves ligadas a estas terapias PÚBLICO

Um estudo francês iniciado em 2003 e cujos resultados foram agora publicados na revista Circulation mostra, pela primeira vez, que os estrogénios transdérmicos, ao contrário dos orais, não aumentam o risco de trombose. E que o risco depende da forma utilizada de progesterona. Os estrogénios e a progesterona são os dois tipos de hormonas femininas em que se baseiam as terapias hormonais da menopausa (THM).

Uma grande parte das mulheres que fazia tratamentos hormonais contra as perturbações da menopausa deixou de os fazer há uns anos - em França, por exemplo, apenas 20 por cento das mulheres continuam a utilizá-los, segundo dados do INSERM (Instituto da Saúde e da Investigação Médica). E o fenómeno repete-se um pouco por todo o mundo ocidental.

A quebra deu-se em 2002, quando um grande estudo norte-americano dos riscos cardiovasculares das THM, o Women's Health Initiative, ou WHI, foi interrompido devido a observação não só de um aumento dos riscos cardiovasculares como também dos casos de cancro da mama.

Os acidentes cardiovasculares representam dois terços das ocorrências graves ligadas a estas terapias, mas foi curiosamente o risco acrescido de cancro da mama que gerou na altura uma verdadeira onda de pânico e confusão entre as mulheres e os seus médicos.

O que são exactamente as THM? São tratamentos que se destinam a combater os problemas da menopausa (afrontamentos, suores nocturnos, disfunções sexuais, depressão, risco de osteoporose) e que se baseiam nos estrogénios e a progesterona. Estas hormonas visam substituir as mesmas substâncias no organismo das mulheres que, por volta dos 50 anos, deixam de as produzir.

Na Europa, estas terapias são realizadas em tratamentos que combinam a administração transcutânea (gel ou adesivo) de estrogénios e oral de progesterona, ou por via oral, em comprimidos que combinam as duas hormonas. O estrogénio usado é derivado do principal estrogénio natural - ao passo que, nos EUA, o mais comum é um estrogénio derivado da urina de éguas grávidas. Quanto à progesterona, são utilizados na Europa tanto a natural como duas grandes famílias de progesteronas sintéticas.

Uma grande confusão

O novo estudo francês, baptizado Esther (EStrogen and THromboEmbolism Risk Study), foi lançado em 2003 por Pierre-Yves Scarabin e a sua equipa do INSERM em Villejuif, nos arredores de Paris. Estimando que as terapias das mulheres norte-americanas não são equivalentes às das europeias - e que, para mais, o estudo WHI não se pode extrapolar para mulheres saudáveis em início de menopausa (uma vez que o WHI considera mulheres mais idosas e afectadas por doenças ligadas à velhice), estes cientistas decidiram reavaliar os riscos cardiovasculares.

E já em 2003, com base na análise de 1000 mulheres, mostraram, pela primeira vez, que os estrogénios transdérmicos, ao contrário dos orais, não aumentam o risco de trombose. As conclusões finais do Esther confirmam os resultados. E o que mostram pela primeira vez é que o risco de trombose depende da forma usada de progesterona, o segundo ingrediente do tandem hormonal de que são feitos estes tratamentos.

O estudo analisou 271 mulheres com problemas cardiovasculares e 610 mulheres da população geral. "Confirmámos a inocuidade dos estrogénios transdérmicos em relação ao risco de trombose", disse ao PÚBLICO Marianne Canonico, co-autora do estudo. "Para mais, mostrámos que os progestativos associados aos estrogénios nos tratamentos da menopausa não são todos iguais face ao risco de trombose venosa: a progesterona micronizada e os derivados do pregnano não alteram o risco, enquanto os derivados do norpregnano o multiplicam por quatro".

O medo do cancro

O que se pode dizer hoje do risco de cancro da mama, o principal culpado pela crise causada pelo WHI em 2002? "Outros estudos franceses analisaram o risco de cancro da mama", responde-nos Marianne Canonico, "e os resultados desses estudos parecem ser compatíveis com os nossos".

De facto, os próprios autores de WHI já reformularam as suas conclusões "depois de fortes críticas a que foram sujeitos pela comunidade científica internacional", diz o ginecologista Manuel Neves e Castro, presidente honorário da Sociedade Portuguesa de Menopausa. Em particular, segundo um parecer da European Menopause and Andropause Society, publicado no último Maturitas (jornal europeu de menopausa), os resultados mais recentes do WHI confirmam que o aumento do risco de cancro da mama não é significativo nos primeiros cinco anos ou mais de tratamento consecutivo.

Mais: os responsáveis do WHI até sugerem, num artigo do Journal of the American Medical Association em Abril de 2004, que, nas mulheres sem útero, a utilização apenas de estrogénios poderá inclusivamente fazer diminuir o risco de cancro da mama.Comunicados recentes das sociedades internacional, europeia e americana de menopausa concluem assim que os tratamentos hormonais, "quando prescritos para o alívio sintomático das mulheres, entre os 50 e os 59 anos, são seguros, com mais benefícios do que riscos", acrescenta Neves e Castro.

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