O que é que Jorge Luis Borges ou Dalí têm a ver com Matemática?

Encontro internacional de Matemática vai reunir no Porto, a partir desta quarta-feira, mais de mil investigadores. "É uma boa notícia para o nosso país", frisou Nuno Crato ao PÚBLICO.

Casa da Música tem colaborado com a ECHO, apesar de só agora ter sido convidada para a rede
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Na Casa da Música vai saber-se nesta quarta-feira como a Matemática funciona como elo de ligação entre a ciência e a arte Paulo Pimenta
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Encontro reunirá no Porto as sociedades americana, europeia e portuguesa de Matemática Paulo Pimenta

O que é que as obras do escritor Jorge Luis Borges, do pintor Salvador Dalí ou do compositor Olivier Messiaen têm a ver com Matemática?

A resposta será lembrada nesta quarta-feira, no Porto, pelo professor da Universidade de Oxford, Marcus du Sautoy, numa conferência intitulada Os Matemáticos Secretos, que decorre a partir das 21 horas na Casa da Música, no âmbito de um encontro internacional de Matemática que reunirá, no Porto, cerca de mil professores e investigadores.

“É uma boa notícia para o nosso país, para a nossa ciência e para os nossos matemáticos e, certamente, uma nova plataforma para a colaboração científica internacional”, comentou o ministro da Educação, Nuno Crato, em declarações por escrito ao PÚBLICO. Crato será um dos oradores da cerimónia de abertura do encontro, onde também falará o reitor da Universidade do Porto (UP), Sebastião Feyo de Azevedo.

Em comunicado, o gabinete de imprensa da Universidade do Porto, onde se realizarão grande parte das conferências, frisa que será “a primeira reunião conjunta das sociedades de Matemática da Europa e dos Estados Unidos da América”. Uma das preocupações do encontro, que se prolonga até ao próximo dia 13, com sessões na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e no seminário do Vilar, é precisamente a de provar que a Matemática tem aplicações em praticamente todas as actividades humanas.

Sautoy é conhecido pelo seu trabalho de divulgação da Matemática e entre os seus clássicos está a demonstração de como, de uma “forma subconsciente, os artistas esboçam as mesmas estruturas que fascinam os matemáticos”. Por exemplo, a forma do Universo não será idêntica à da biblioteca descrita por Borges? Escreveu ele: “A Biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direcção, comprovaria ao fim dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, reiterada, seria uma ordem: a Ordem)”.

Para Sautoy, que apresenta a matemática como sendo a ligação entre a ciência e a arte, Borges, com a sua Biblioteca de Babel, Dali, com as obras O Sacramento da Última Ceia ou A Face da Guerra, e Messiaen com o seu Quarteto  para o Fim do Tempo, composto no campo de concentração de Gorlitz, são “matemáticos secretos”.  Para provar ao vivo que estas ligações existem, realizar-se-á um concerto pela Orquestra Clássica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, logo após a conferência de Sautoy.

O primeiro dia do encontro internacional de Matemática, com arranque às 17 horas desta quarta-feira, contará com três oradores portugueses: Rui Fernandes, professor da Universidade de Illinois, Irene Fonseca, que ensina na Universidade de Carnegie Mellon, e André Neves, do Imperial College, Londres, que em 2011 foi o primeiro matemático português a receber do Conselho Europeu de Investigação uma bolsa de mais de um milhão de euros.

O encontro do Porto é organizado pela Sociedade Americana de Matemática (AMS), pela Sociedade Europeia de Matemática (EMS) e pela Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM). Segundo Nuno Crato, que é também matemático, o encontro, “tendo mais de mil participantes, testemunha a vitalidade e a internacionalização da investigação matemática no nosso país e mostra a capacidade da Sociedade Portuguesa de Matemática e dos centros de matemática portugueses para reunir matemáticos europeus e norte-americanos na troca e debate de resultados de investigação”.

Crato frisou que não é esta a única área onde investigadores portugueses se têm destacado. “Nos últimos tempos, temos tido vários testemunhos do progresso internacional dos nossos cientistas. Os dados mostraram que, em 2014, os nossos cientistas conseguiram nos projectos competitivos do programa europeu Horizonte 2020 uma taxa de sucesso superior à europeia e, pela primeira vez na história, um ganho líquido, trazendo para Portugal mais fundos competitivos do que aqueles que o país coloca no programa europeu conjunto”, especificou, para acrescentar que “este último ano foi também um ano de ouro nas bolsas do European Research Center, em que os cientistas portugueses conseguiram mais bolsas do que em todos os anos anteriores”.

Na sua página sobre o encontro do Porto, a AMS esclarece que este se realiza numa cidade classificada pela UNESCO como património mundial e que foi eleita em 2014 como o melhor destino europeu.   

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