Todos à tatuagem

Foto

O gesto de Ibrahimovic poderá mudar o mundo? Muitas figuras poderão agora cobrir o corpo de tatuagens com alto valor estético e espiritual. Por boas causas vale a pena arriscar em tattoos que, no futuro, às vezes se transformam em desenhos foleiros que só complicam a Vida e o Amor. Mas quem não quis um dia salvar o mundo, antes de salvar a própria pele?

Passos Coelho. O pragmático primeiro-ministro português pretende tatuar “Eu não sou grego” e uma pequena gramática de português elementar, para ir treinando essa língua nos Conselhos Europeus. Na pele das costas, onde o próprio não chega, estarão as 50 promessas eleitorais que nunca, mas nunca, pensou cumprir, e as novas ficções económicas que inventará para este ano.

Wolfgang Schäuble. O ministro das Finanças de Portugal e da Alemanha já encomendou a tatuagem de uma linda mensagem de amor: “Ich Liebe Maria Luís Albuquerque und Gaspar.” Inclui um coração pintando na pele do peito, já que lá dentro não bate nenhum.

Jean-Claude Juncker. O actual presidente da Comissão Europeia levou a sério as críticas que fez a Durão Barroso e à União Europeia, e quer gravá-las a ferro, fogo e tinta nos gémeos da perna: “Pecámos contra a dignidade dos povos na Grécia, Portugal e Irlanda, falta legitimidade democrática à troika.” Admite que parece “estúpido em dizer isto” mas que há que “retirar lições de história e não repetir erros”. Por último, Juncker pede ao tatuador que o magoe com a agulha, porque merece.

Durão Barroso. O ex-presidente da Comissão Europeia vai escrever 50 vezes no peito uma verdade tão clara como a prova das armas de destruição que ele viu no Iraque: “Sou um pau-mandado, sou um pau-mandado”, etc.

Carlos Alexandre. O superjuiz português vai tatuar as milhares de vezes que ele, ou alguém perto dele, quebrou o segredo de justiça desde a prisão de José Sócrates. A dificuldade é que foram tantas que o magistrado vai parecer um guerreiro maori em batalha e isso fica mal quando for em procissões católicas à volta da igreja de Mação.

José Sócrates. Entre ingénuos desenhos rurais de casinhas em Rapoulas, Valhelhas e Covadoude, o ex-primeiro-ministro vai tatuar nas mãos a data e os valores dos empréstimos dos amigos para não se esquecer de pagar tudo, naturalmente, como foi sempre sua intenção, e ninguém tem nada com isso e não admite que se façam juízos morais, era só o que faltava, o tattoo, ao contrário da política, é uma arte livre.

Cavaco Silva. O famoso não-político português há mais anos em exercício na política portuguesa pretende tatuar o nome de todos os seus ex-colaboradores e amigos chegados que não lucraram financeiramente com a política ou com escândalos financeiros e bancários, sem contar as acções na SLN e a Praia da Coelha. A ponta do seu cotovelo direito é suficiente.

Marques Mendes. O comentador televisivo e pitoniso do PSD tentará encontrar na curta superfície da sua pele espaço para tatuar o nome de 50 empresas das quais é sócio e aonde ainda não se descobriu uma marosca que ele desconhecia em absoluto (como vistos gold ou venda ilegal de acções). Além disso, ficaremos a saber as 50 próximas medidas do Governo de Passos Coelho, isto é, cortes sociais e esquemas de privatizações.

Professor Marcelo. O comentador televisivo, futuro candidato a Presidente e futuro ex-candidato a Presidente, vai tatuar os 50 “factos políticos” mais cómicos que já inventou em benefício do PSD, em prejuízo do PSD, ou só para reinar com o pagode, porque é preciso rir e não perder a esperança.

António Costa. O ex-presidente da Câmara de Lisboa (em exercício algures) pretende tatuar as suas 50 novas “taxas e taxinhas”, mais as proibições de circulação disto e daquilo e o cálculo das multas, e o agravamento das mesmas multas, e a tabela completa da infernização fiscal da vida dos lisboetas, contra tudo o que promete para o resto do país quando for Governo.

Sepp Blatter. O suíço (e famoso imitador de Cristiano Ronaldo nos livres) dirige uma FIFA com mais segredos e esquemas do que um banco do seu país. Vai tatuar na barriga e nas nádegas o número bancário de 50 mil representantes do futebol que compraram ou que foram comprados nos últimos 17 anos, com destaque a tinta vermelha para o Mundial do Qatar jogado a 50 graus à sombra, em 2022.

Luís Figo. Disposto a devolver ao futebol a sua integridade, o ex-internacional português, agora candidato à presidência da FIFA, vai expor na zona do trapézio superior, do tríceps direito e do braquial esquerdo, os cerca de 50 contratos duplos que assinou ao mesmo tempo por clubes rivais, a ver qual dava mais dinheiro. O menu do pequeno-almoço com José Sócrates (e a conta de 750 mil euros) serão gravados no glúteo máximo.

Cristiano Ronaldo. O empresário Jorge Mendes vai anunciar que “o melhor jogador do mundo” não se tatua porque pretende continuar a doar sangue (a tatuagem implica um período de quarentena nos dadores), negando que “o melhor jogador do mundo” seja demasiado narcisista para picar e manchar a pele dos peitorais d’ “o melhor jogador do mundo” com bonecada.

Sugerir correcção
Comentar