Ter razão mas não

Como fica a feijoada de chocos sem chocos nem chouriço?

As peças de Ricardo Garcia no PÚBLICO, para além de muito bem escritas, são exemplares, porque ele escreve cada uma como alguém que leu tudo o que se escreveu antes.

Anteontem, por exemplo, no chocante artigo intitulado "Consumo de peixe em Portugal é dos mais prejudiciais ao planeta", Garcia lembra que a semana não tem poupado os bons garfos de Portugal. Só três dias antes a OMS tinha-nos informado que os enchidos e o presunto são cancerígenos.

É verdade: é TMI (too much information). Como fica a feijoada de chocos sem chocos nem chouriço? Fica mais mediterrânica, diz Alessandro Galli; com razão, raios o partam.

Galli é natural de Itália: um país onde se come muito bem mas pouco peixe, até por o peixe ser uma boa merda. Tem a lata (no sentido mais conservador da palavra) de recomendar aos portugueses que comam menos atum e mais sardinhas, porque um quilo de atum equivale a dez quilos de sardinhas.

Ricardo Garcia contra-ataca imediatamente: "[Porém], neste momento, a maré também não está para as sardinhas." Pois não. Mas também não foge da realidade: "Em 2014, 481 mil toneladas de pescado vieram de fora, contra 283 mil toneladas de exportação." Engole-se em seco e pergunta-se mentalmente: "Não será só bacalhau da Noruega pois não?" Não, não é.

Mas não é verdade que esse bacalhau é sustentavelmente pescado?  E que Portugal, ao contrário do Egipto (e da Itália) com que é comparado, é um país cuja longa costa é toda oceânica e atlântica? Sim.

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