Tentativas de suicídio aumentam com a crise

Número de tentativas de suicídio aumentaram nos últimos anos. As mortes autoinfligidas também. A crise económica pode ser a razão para que algumas pessoas ponham termo à vida.

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A solidão e a falta de apoio podem potenciar o suicídio Miguel Madeira/Arquivo

Durante o ano passado, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) recebeu 1672 pedidos de ajuda para evitar casos de suicídio, mais 489 do que em 2011. O suicídio passou a ser a principal causa de morte autoinfligida, seguida dos acidentes de viação. Apenas a morte por doença ultrapassa esta causa para o óbito. A crise pode ser a razão para este aumento.

Números avançados na edição desta segunda-feira do Diário de Notícias indicam que no final da década de 1990 foram registados 500 suicídios que mais que duplicaram em 2011, quando foram confirmados acima dos 1200 casos. Dados do INEM revelam que nos primeiros sete meses de 2012 foram recebidos 904 alertas de pessoas que tentaram pôr termo à vida, mais 27% que em 2011.

O número de pessoas que se suicidaram no ano passado não é ainda conhecido e as entidades que têm registos destes casos para 2010 e 2011 apresentam dados distintos. Por exemplo, o Instituto de Medicina Legal (IML) contabilizou 1141 suicídios em 2010, mais 40 que o INEM para o mesmo ano. Em 2011, a diferença volta a verificar-se: o IML aponta 1251 mortes autoinfligidas, mais que as 1012 indicadas pelo INEM. Estas divergências foram explicadas ao DN por José Carlos Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, com a existência de “taxas muito elevadas de morte por causas desconhecidas”. Em causa estão mortes que até podem ter ocorrido por suicídio mas que são camufladas por causa de seguros ou questões religiosas ou porque é difícil confirmar que um acidente de viação ou uma sobredose de medicamentos podem ter tido como objectivo a morte deliberada.

A crise económica e o reforço das medidas de austeridade podem potenciar o suicídio. Em Espanha, por exemplo, registaram-se casos de pessoas que se suicidaram pouco antes de serem despejadas das suas casas por falta de pagamento do empréstimo ao banco. Na Grécia, houve mesmo casos de suicídio em plena praça pública após o anúncio de mais restrições económicas.

Márcio Pereira, responsável nacional pelo Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do INEM, considera que “a crise económica afigura-se como um grande problema nos tempos mais próximos”. Citado pelo DN, Márcio Pereira acrescenta que o desemprego leva a casos de depressão e falta de dinheiro a que não se compre a medicação necessária. “Sentem falta de apoio e solidão, sobretudo sabem como terminar com o sofrimento e perspectivam a morte como uma saída”.

Quem mais tenta o suicídio são as mulheres (a maioria com idades entre os 40 e 49 anos), “por utilizarem métodos menos letais do que os homens e por terem  mais facilidade em pedir ajuda”, escreve o jornal. Os homens (a maioria a partir dos 50 anos) matam-se três a quatro vezes mais do que as mulheres. Os jovens há mais um “comportamento prassuicidário, sendo as intoxicações por via medicamentosa o método mais utilizado”.

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