Advogado de Sócrates acredita que o ex-governante será libertado esta semana

"Ai vai ser libertado vai”, disse João Araújo. O ex-governante foi inquirido no DIAP no âmbito de dois processos de violação do segredo de justiça. Um dos processos em que Sócrates é assistente fica sob segredo.

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José Sócrates é acusado de ter conduzido Portugal à bancarrota Miguel Manso

João Araújo, o advogado de José Sócrates, está convicto de que o ex-primeiro-ministro vai ser libertado em breve. As medidas de coacção são reavaliadas obrigatoriamente de três em três meses, pelo que o juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre, deverá ainda esta semana decidir se se mantêm os pressupostos anteriores que fundamentaram a prisão preventiva. Sócrates está na cadeia de Évora desde Novembro. "Ai vai ser libertado vai”, disse João Araújo à saída do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa.

O ex-primeiro-ministro foi esta segunda-feira inquirido durante várias horas naquele departamento no âmbito de dois processos de violação do segredo de justiça. Saiu da cadeia de Évora pelas 8h30 e ao final do dia já estava regresso outra vez. Quer na ida quer no regresso os guardas prisionais usaram manobras de diversão para tentarem evitar ser seguidos pela comunicação social. A primeira carrinha que saiu de Évora de manhã não levava nenhum recluso. Sócrates seguiu numa segunda carrinha. No regresso a Évora foram também usadas manobras do mesmo género.

O ex-governante é assistente nos dois processos, figurando num deles como denunciado. Os interrogatórios que começaram de manhã continuaram, por isso, durante a tarde desta segunda-feira. Num dos processos estão em causa alegadas fugas de informação na denominada Operação Marquês, a investigação em que foi determinada a prisão preventiva do antigo governante. O segundo processo relaciona-se com uma queixa apresentada em Janeiro pelo antigo dirigente de extrema-direita Mário Machado.

O advogado sublinhou que Sócrates se sente “extremamente honrado” por ter sido denunciado por uma pessoa que “se entretém a espancar pretos e indianos e também assalta casas, sendo um deliquente”.

Mário Machado, que cumpre pena de prisão por crimes como sequestro, roubo e ofensas corporais graves entendeu que José Sócrates terá violado o sigilo a que está obrigado, uma vez que para demonstrar a sua inocência aludiu a factos concretos que estão sob investigação, explica o seu advogado, José Manuel Castro. Mas ao mesmo tempo que se sente "extremamente honrado", o ex-primeiro-ministro sente-se igualmente triste: "José Sócrates manifestou-me tristeza pelo facto de o Ministério Público mobilizar esforços por causa de uma denúncia de um delinquente da categoria desse senhor". Quanto ao teor da queixa de Mário Machado, o advogado diz que o antigo governante mais não fez, nas respostas que deu à estação televisiva, do que defender-se das acusações que lhe foram feitas na praça pública.

Sócrates foi ouvido como testemunha na inquirição da manhã desta segunda-feira, mas João Araújo não explicou ao certo se o ex-primeiro-ministro foi constituído arguido de tarde no inquérito em que foi ouvido após ter sido denunciado, sendo certo que é frequente o Ministério Público constituir arguida a pessoa notificada denunciada num caso no momento em que a interroga.

De acordo com João Araújo, o inquérito em que Sócrates figura como assistente ficou em segredo de justiça, enquanto o outro não. Araújo considera que no processo no âmbito do qual Sócrates está preso não houve fugas de informação. "O que há é a transmissão de informação a partir de quem controla o processo”, referiu numa alusão clara aos magistrados do Ministério Público que tutelam o inquérito. "Sócrates sente-se profundamente ofendido pelas violações sucessivas do segredo de justiça que favorecem as versões da investigação e o desfavorecem a ele", acrescentou.
 
De manhã, antes de chegar ao DIAP, o advogado ainda passou pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), onde trabalha o procurador Rosário Teixeira, titular do inquérito no âmbito do qual Sócrates está indiciado por corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais. Mas recusou-se repetidamente a explicar o que lá foi fazer. O que garantiu foi que desde o dia em que foi ouvido pelo juiz Carlos Alexandre que o antigo governante não é confrontado com novas suspeitas pelas autoridades, apesar de já ter pedido para voltar a ser ouvido sobre os factos que deram origem à Operação Marquês.

Para João Araújo, não se afigura, por enquanto, necessário lançar mão de um habeas corpus para tentar libertar o seu cliente. "O nosso método é prosseguir pelas vias normais enquanto considerarmos que o processo está a correr pelas vias normais. Se entrar em vias anormais, então usaremos métodos extraordinários", referiu.


  

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