Só 6% dos idosos não vacinados contra a gripe dizem que preço é o motivo

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As vacinas para as populações de risco são gratuitas nos centros de saúde Foto: Paulo Ricca

A vacina contra a gripe sazonal passou neste ano a ser gratuita para todas as pessoas com 65 ou mais anos, com o objectivo de se atingir a taxa de cobertura pretendida pela Organização Mundial de Saúde. Contudo, um estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) indica que só 6% dos idosos que não foram vacinados indicam o preço como motivo.

Nas conclusões, os autores do estudo salientam que, com base nestes resultados, é importante “rever as estratégias de promoção vacinal, fundamentalmente nos indivíduos com 65 anos e mais”, já que “é o segundo ano consecutivo em que se verificou diminuição da estimativa percentual de vacinados neste grupo alvo”.

Os dados surgem quando Portugal assumiu a meta de 75% de cobertura da população idosa ou em risco de complicações para a época 2014/2015 e no primeiro ano em que todas as pessoas com mais de 65 anos podem ser vacinadas gratuitamente nos centros de saúde – o que representa um investimento do Estado na ordem dos quatro milhões de euros.

Além deste grupo de risco, as autoridades recomendam a imunização também aos doentes crónicos, profissionais de saúde e outras pessoas com profissões de risco e pessoas com idades entre os 60 e os 64 anos. Ainda assim, estão também disponíveis nas farmácias 1,7 milhões de doses para as pessoas que entenderem vacinar-se, mediante receita médica e com comparticipação do Estado.

O problema é que, de acordo com o estudo do INSA, entre a população com 65 ou mais anos que não se vacinou o principal motivo invocado foi a “desvalorização/negação da importância da doença (41,4%) e uma má experiência no passado com a vacina (21,8%)”. Além disso, quando questionados sobre factores que poderiam mudar a atitude perante a vacina, 34,9% responderam que nada os faria optar pela vacinação e 34,6% afirmaram que só tomariam se um médico recomendasse.

Contactado pelo PÚBLICO, o director-geral da Saúde garantiu que todos estes dados estão a ser acompanhados, mas que a Direcção-Geral da Saúde “mantém a meta de conseguir ter pelo menos 60% desta população vacinada neste ano e 75% para o ano”. Quanto a estratégias, Francisco George disse que a aposta continuará a passar por dinamizar “iniciativas junto dos cidadãos”, alertando ainda que é quando as semanas frias coincidem com a actividade gripal que surgem os piores cenários.

2400 mortos por ano

A vacinação contra a gripe é fundamental para prevenir a doença e a transmissão. A gripe é a principal doença do adulto prevenível pela vacinação e, no nosso país, esta infecção é responsável por milhares de internamentos hospitalares e centenas de óbitos. Na Europa estima-se que o excesso médio de óbitos associados à gripe seja de 40 mil por época. Em Portugal a média ao longo de várias épocas foi de cerca de 2400 óbitos.

A gripe é uma infecção aguda viral provocada pelo vírus influenza, que afecta sobretudo o sistema respiratório. No adulto, o quadro clínico típico caracteriza-se pelo aparecimento súbito de mal-estar geral, febre, dores musculares e nas articulações, arrepios, dor de cabeça e corrimento nasal.

O estudo “Vacinação antigripal da população portuguesa na época 2011-2012: Cobertura e características do acto vacinal”, de Baltazar Nunes e Maria João Branco, recorreu a inquéritos para recolher informação relativa à iniciativa da vacinação, local onde foi feita, data e atitude perante a vacina. Assim, foram feitos telefonicamente entre Março e Abril deste ano 821 questionários válidos numa amostra de mais de mil lares, o que corresponde a uma taxa de resposta de 76,9%.

Dentro da amostra, no último Inverno foram vacinadas 16,4% das pessoas, o que representa uma quebra em relação a 2010/2011, ano em que foram vacinados 17,5% dos inquiridos. Nas pessoas com 65 ou mais anos, a taxa foi de 43,4%, contra 48,3% no ano anterior. A vacinação sazonal ocorreu, quase totalmente, até final de Novembro (97,6%), fundamentalmente, por indicação do médico de família (55,8%). Para se vacinar a população utilizou mais frequentemente a farmácia (55,1%) seguida do centro de saúde (21,2%).

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