Polícias encontraram seringas enquanto separavam tampinhas entre o lixo

Agentes terão sido destacados para separar tampinhas recicláveis para a criação de uma megabandeira nacional a 10 de Junho. PSP pretende bater o recorde do Guiness da maior bandeira do género. Sindicatos dizem que essa não é a função da PSP.

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Daniel ROCHA

Alguns dos agentes da PSP que participaram esta semana, em Lisboa, na preparação para a criação uma mega-bandeira nacional a 10 de Junho encontraram seringas, além das tampinhas recicláveis pretendidas. Isto, porque, afinal, garantiram várias fontes policiais ao PÚBLICO, o que chegou às mãos dos agentes nos armazéns da antiga empresa Abel Pereira da Fonseca era lixo comum, ainda que com uma triagem prévia.

“Tive conhecimento, por vários colegas que lá estiveram, que foram encontradas seringas. Tendo em conta que vieram do lixo devem vir de consumo [de drogas] e podem ser foco de doenças. É inaceitável e coloca em causa a saúde dos agentes. Não estamos a falar de só separar tampinhas por cores”, disse ao PÚBLICO o presidente do Sindicato Unificado da Polícia (SUP), Peixoto Rodrigues.

"É inacreditável”, comentou também o presidente do Sindicato Nacional de Polícia (Sinapol), Armando Ferreira. “Fiquei a saber também que se tratava, então, de lixo comum, e que isso coloca em causa a saúde dos polícias", referiu.

Os sindicatos da polícia receberam durante esta semana mensagens de descontentamento dos agentes por participarem na separação de tampinhas. Os polícias não contestam o evento de cariz solidário, mas consideram que não é missão da PSP participar nestas iniciativas.

Certo é que é a PSP quem dinamiza, em pareceria com outras entidades, a candidatura mundial ao Guinness World Records do projecto "Bandeira da Esperança". A bandeira, que terá 45x30 metros, vai ser formada por cerca de 10 milhões de tampinhas, num total de 15 toneladas, debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, em Lisboa.

Na terça-feira, a 2.ª divisão da PSP terá enviado um e-mail a ordenar a alguns elementos da polícia que participassem na separação por cores das tampinhas, o que teria início às 8h de quarta-feira, num armazém.

O PÚBLICO tentou confirmar se a participação de agentes na separação de tampinhas seria voluntária ou resultou de uma ordem. Fontes policias asseguram que alguns agentes estavam fardados. Cerca de 30 agentes, entre os quais estiveram sempre algumas chefias, participaram diariamente na acção. Teriam até horários e foram retirados, em média, três polícias de cada esquadra da divisão. É o caso da esquadra que está no interior do Campus da Justiça, onde o policiamento habitual terá sido afectado.

A 2.ª divisão remeteu declarações para o Comando Metropolitano de Lisboa, o qual indicou que a PSP participou “numa iniciativa de intervenção social junto da comunidade”, através do “voluntariado da PSP e da sociedade civil”.

O subintendente Paulo Flor, porta-voz da Direcção Nacional da PSP, confirmou ter “conhecimento da iniciativa”, que foi autorizada, mas que foi o Comando de Lisboa que “assumiu determinados compromissos”, cabendo-lhe “assumir as suas responsabilidades”.

O PÚBLICO tentou obter, sem sucesso, através de um novo contacto, a reacção destes responsáveis da PSP depois de apurar o aparecimento das seringas.

A participação da PSP na iniciativa "Bandeira da Esperança" foi anunciada pelo Comando de Lisboa a 2 de Maio. Através da 2.ª divisão da PSP iria estar presente na construção da bandeira, o “contributo” da polícia para celebrar o Dia de Portugal – Dia de Camões.

Além da sensibilização da população para causas ambientais, o comando disse que a bandeira será “igualmente um incentivo à selecção nacional de futebol”, que dias depois inicia a sua participação no Mundial de futebol, no Brasil.

“Obrigar nada tem a ver com a prontidão”
O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Rodrigues, afirmou que esta estrutura “não põe em causa a iniciativa e todas as que tenham um objectivo solidário”, mas questiona a forma como os polícias participaram. “Se tivesse sido lançado um apelo voluntarioso para ajudar, provavelmente apareciam muitos polícias disponíveis”, disse.

O sindicalista defende que “obrigar nada tem a ver com a prontidão” da polícia. “[Os polícias] só devem fazer essas actividades fora da sua missão e como voluntariado”, reforçou. Já o Sinapol critica a alegada ordem da 2.ª divisão da PSP de Lisboa e só aceita que a polícia participe neste tipo de iniciativas “nas suas horas vagas e se o fizer voluntariamente”.

Peixoto Rodrigues, do SUP, lamenta que a PSP alegue que desconhece se a participação dos agentes partiu de uma ordem ou não, afirmando que isso “não corresponde à verdade”. O dirigente reconhece a hipótese de que “haja elementos voluntários”, mas garante que os que se negarem a cumprir ordens “vão sofrer depois as consequências”.

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