Sindicato acredita que “declarações infelizes” do ministro vão aumentar adesão à greve

Federação Nacional dos Médicos reage a declarações de Paulo Macedo sobre greve destes profissionais ter "motivos políticos".

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A greve teve o ponto alto na terça-feira com uma manifestação frente ao Ministério da Saúde Nuno Ferreira Santos

A presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Maria Merlinde Madureira, espera para esta quarta-feira uma "maior adesão" dos médicos ao segundo e último dia de greve, como reacção "às declarações infelizes" do ministro da Saúde.

Em entrevista à SIC na terça-feira à noite, Paulo Macedo afirmou que a greve de dois dias é suscitada por um "conjunto de motivos políticos", sublinhando que o Governo "tem cumprido a parte com que se comprometeu e tem estado em permanente diálogo com os sindicatos". Paulo Macedo disse compreender as razões que levaram os médicos para a greve, mas sublinhou que o seu descontentamento é "transversal à sociedade portuguesa, as pessoas estão descontentes com a situação do país". O ministro sustentou que "uma parte" do descontentamento dos médicos é semelhante ao de outras classes profissionais, que "muitas das vezes trabalham em condições difíceis, com rendimentos menores".

Para Maria Merlinde Madureira, as declarações de Paulo Macedo "foram muito infelizes" e podem levar mais médicos a aderir à paralisação no segundo dia. "Penso que há boas perspectivas para o dia de hoje, nada faz prever que possa fazer diminuir a adesão, antes pelo contrário, penso que hoje haverá uma maior adesão", porque os "médicos sentem-se ofendidos por essas declarações", que foram "muito injustas e não são verdadeiras", sustentou.

Maria Merlinde Madureira defendeu que os médicos são "um grupo profissional que respeita e quer ser respeitado" e que tem "colaborado sempre na procura das melhores soluções para os problemas do sector". "A Fnam tem-se pautado sempre por um discurso correto, que não agrida, não faça juízos de valor de outra coisa senão das medidas que estão em curso", sublinhou.

Já na terça-feira a sindicalista tinha defendido, em declarações ao PÚBLICO, que a greve tem de facto motivações políticas: "Claro que é política, é política de Saúde. É estranho que o senhor ministro considere que uma motivação política é um insulto e tem algo de negativo. Não é um insulto nem deve ser. É verdade que estamos a falar de política de saúde".

Agora, a dirigente sindical disse ainda que depois da greve, logo a partir de "amanhã, há que encontrar soluções". "Eu penso que o Sr. ministro terá consciência, terá noção de que tem que se sentar, tem que negociar, tem que saber que não podem acontecer as situações de saúde, ou de falta dela, que estão a acontecer neste momento no país", frisou.

Maria Merlinde escusou-se a fazer um balanço do primeiro dia da paralisação, mas afirmou que o impacto das greves se mede pelo número de cirurgias adiadas e pelo número de consultas não realizadas. "Esse número foi muito grande e não houve protestos da população", comentou, considerando que os médicos conseguiram também traduzir "o sentir da população quando se queixa dos cuidados de saúde atuais".

A greve, que termina à meia noite, foi convocada pela Fnam e mereceu o apoio da Ordem dos Médicos e de várias associações do sector e também de pensionistas e doentes. Contudo, o Sindicato Independente dos Médicos decidiu ficar de fora.

Ao contrário da greve de 2012 motivada por questões relacionadas com os contratos de médicos tarefeiros, as carreiras médicas, as baixas tabelas salariais e a degradação da “qualidade dos cuidados de saúde, agravando as dificuldades de acesso aos cuidados de saúde pelos portugueses”, o protesto desta semana traz para a ordem do dia aquilo que tanto a Fnam como a Ordem dos Médicos têm apelidado de “emaranhado legislativo” e cujo diagnóstico expuseram em 22 pontos: os médicos defendem, entre outros temas, a necessidade de revogação, anulação ou rectificação de portarias e despachos produzidos pelo Ministério da Saúde, nomeadamente sobre a reorganização da rede hospitalar, o código de ética conhecido como “lei da rolha” (que entretanto Paulo Macedo garantiu que expurgaria de quaisquer limites à liberdade de expressão), e a medicina do trabalho.

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