Parlamento poderá receber deputados espanhóis para discutir planos para Almaraz

O deputado Pedro Soares foi a Madrid defender que a “via parlamentar” é a solução para resolver a polémica, instalada entre Portugal e Espanha, sobre a central nuclear de Almaraz.

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A central nuclear d Almaraz tem gerado polémica nos dois países Enric Vives-Rubio

Ainda não há data, mas a ideia já está em cima da mesa. Depois da reunião desta quinta-feira em Madrid com o seu homólogo espanhol, o presidente da Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, Pedro Soares, adiantou que será proposto aos deputados espanhóis o agendamento de uma “reunião ibérica”, a decorrer em Lisboa o mais brevemente possível, para discutir questões relativas à central nuclear de Almaraz.

A tónica do encontro não foi de confronto, segundo relatou o deputado do Bloco de Esquerda Pedro Soares, mas de convergência: “O deputado Ricardo Sixto comunicou-nos que iria propor que viesse a existir uma reunião ibérica, interparlamentar, em Lisboa, proximamente. [A ideia passa por juntar] os porta-vozes dos vários grupos parlamentares espanhóis numa reunião em São Bento, no Parlamento, na qual o tema fosse precisamente a questão do nuclear e as preocupações portuguesas sobre a segurança e continuação da central nuclear de Almaraz”, explicou Pedro Soares que insiste que a “ligação entre o parlamento português e espanhol” tem de continuar.

“Tive oportunidade de explicar ao deputado Ricardo Sixto que há uma grande convergência no nosso país relativamente a esta questão. Já houve duas votações no Parlamento por unanimidade, uma a reclamar o encerramento de Almaraz e outra a condenar a autorização para a construção do armazém temporário”, lembrou o bloquista.

Espanhóis também estão preocupados com centrais

Do outro lado, garantiu, também há apreensão: “Ricardo Sixto referiu-nos que tinha preocupação relativamente a esta questão, porque há um conjunto de centrais nucleares espanholas que estão a atingir os 40 anos e o debate sobre o prolongamento dessas centrais vai estar presente no parlamento espanhol. Ele próprio, como presidente da comissão de energia, vai procurar que haja um entendimento maioritário no parlamento espanhol no sentido de haver um progressivo desmantelamento das centrais”, disse Pedro Soares.

A ideia é tentar resolver pela via parlamentar o impasse criado entre os dois países: “Ficou claro que a nossa vinda não se prendia com qualquer situação confrontacional com Espanha, pelo contrário”, começou por ressalvar o deputado. “Tendo em conta que a reunião entre o ministro do Ambiente português e a ministra espanhola não foi conclusiva, e ter originado uma queixa do Governo português à União Europeia relativamente à construção de um armazém em Almaraz, procurámos estabelecer novos canais de diálogo entre Portugal e Espanha. A via parlamentar poderá ser um desses canais, que não deixe que a situação bloqueie”, defende Pedro Soares para quem os dois países estarem de “costas voltadas não é solução”.

Outro dos pontos que o bloquista fez questão de deixar claro na reunião foi o de que respeitam as decisões espanholas sobre política energética, mas elas não podem pôr em causa a segurança das populações.

Queixa entregue na segunda-feira

Na segunda-feira, Portugal entregou à Comissão Europeia uma queixa contra Espanha pela decisão de construir um armazém de resíduos nucleares em Almaraz, a 100 quilómetros da fronteira portuguesa, por entender que não foram avaliados os impactos, o que não cumpre as regras europeias. Já antes, a Assembleia da República tinha aprovado, por unanimidade, uma resolução na qual recomenda ao Governo de Portugal que intervenha junto do executivo espanhol para encerrar aquela central.

Segundo a agência Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol garantiu, nesta quinta-feira, em Madrid, que o armazém de resíduos nucleares que vai ser construído na central de Almaraz terá todas as condições de segurança para Portugal. Mas a decisão tem gerado muita polémica, com políticos e ambientalistas a argumentarem que a construção do armazém não indicia o encerramento de uma central que não deveria continuar a funcionar depois de 2020.  
 

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