Rui Pedro Soares diz estar por provar que apoio de Figo a Sócrates se traduziu em votos

Julgamento do caso Taguspark começou nesta quinta-feira em Oeiras. Em causa as verbas pagas com dinheiros públicos ao antigo futebolista para promover a imagem de José Sócrates.

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Rui Pedro Soares hoje à entrada para o Tribunal de Oeiras Enric Vivies-Rubio

O antigo administrador da Portugal Telecom (PT), Rui Pedro Soares, acusado de corrupção passiva no caso Taguspark, disse na manhã desta quinta-feira em tribunal que está por provar que o apoio do futebolista Luís Figo a José Sócrates, em 2009, se tenha traduzido em votos nas eleições legislativas que então se realizaram.

Confrontado com a escuta na qual o seu antigo assessor jurídico na PT, Paulo Penedos, se congratula por ele estar prestes a celebrar com o antigo futebolista internacional português um contrato “um bocado pornográfico”, Rui Pedro Soares atribui estas afirmações a mera especulação do seu ex-colaborador, de quem era amigo há muitos anos.

É sobretudo nesta conversa que se baseia a acusação para dizer que o apoio de Figo a Sócrates, expresso numa entrevista que o futebolista deu nessa altura ao Diário Económico, custou aos cofres públicos um valor mínimo de 350 mil euros pagos com dinheiros vindos do parque tecnológico Taguspark, em Oeiras, que o futebolista se comprometeu a promover.

Na mesma conversa, mantida por Paulo Penedos ao telefone com Marcos Perestrello, antigo secretário de Estado no Governo de Sócrates, no Verão de 2009, Penedos diz que Rui Pedro Soares “conhece toda a gente e mais alguma” e que “todos os gajos em que ele tropeça do mundo da bola estão a apoiar o PS e o Sócrates”. E remata: “Mas depois todos têm por trás contratos”.

Hoje, no Tribunal de Oeiras, Rui Pedro Soares alegou que o parque tecnológico necessitava de captar empresas além-fronteiras e que Figo e José Mourinho, que também chegou a contratar, eram das poucas figuras com prestígio internacional suficiente para a missão. Já Cristiano Ronaldo, além de mais caro, tinha uma imagem “que não era compatível com a promoção de um parque deste género”.

O antigo administrador da PT repetiu por duas vezes que fez questão que o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, “não protagonizasse fosse o que fosse à boleia destes contratos” com o mundo do futebol.

Quanto ao apoio de Figo a Sócrates, recordou que já em momentos anteriores à assinatura do contrato com o Taguspark o futebolista havia mostrado simpatia para com o então primeiro-ministro, que lhe foi justificada em 2009, disse, com a defesa que o ex-líder socialista fazia do projecto do TGV para modernizar o país.

Parada de estrelas

No processo que hoje começou a ser julgado no Tribunal de Oeiras são ainda arguidos Américo Thomati, então presidente da comissão executiva do Taguspark, e João Carlos Silva, antigo secretário de Estado do Orçamento no segundo Governo de António Guterres e administrador do parque tecnológico de Oeiras entre Maio de 2009 e Junho de 2010. Todos são acusados de um crime de corrupção passiva para acto ilícito, punido com pena de prisão até oito anos.

O julgamento será um desfile de figuras públicas do futebol e da política. O Ministério Público aditou à sua lista inicial o treinador José Mourinho e o director do Diário Económico, António Costa, que vão depor a par de outras personalidades. Na lista está Luís Figo, o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, e os administradores da PT Zeinal Bava e Henrique Granadeiro.

Os também ex-futebolistas Rui Costa, Sá Pinto e Vítor Baía vão testemunhar a pedido de Rui Pedro Soares. João Carlos Silva apresentou como testemunhas abonatórias o ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos, o ex-secretário de Estado para a Comunicação Social Arons de Carvalho, o jornalista Rodrigues dos Santos e o advogado António Lobo Xavier.

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