Ronnie Pickering

As modas literárias são as piores e mais volúveis. Um dos grandes escritores que cada vez se lêem menos é Ionesco. Faz-nos rir, pensar, sentirmo-nos deslocados e estranhos e, ao mesmo tempo, cúmplices culpados. Nem é preciso lamentar que seja difícil ver as peças dele: as peças dele são deliciosas de ler.

Eis um preconceito que nenhuma pessoa do teatro tem paciência para defender: as boas (e algumas más) peças de teatro lêem-se muitíssimo bem. Imaginam-se bem e lêem-se muito mais depressa. As de Ionesco nunca perdem a graça, por muitas vezes que as leiamos.

Em Outono foi colocado no YouTube um video com o título "Do you know who I am? I'm Ronnie Pickering! Who?". Parece uma primeira redacção de uma peça de Ionesco. Dura quase 4 minutos mas há só 45 segundos que são bons.

A parte boa começa quando um ex-pugilista tão furioso como desconhecido pergunta ao condutor de uma motorizada: "sabe quem eu sou?"

Pergunta três vezes, como se toda a gente tivesse a obrigação de saber quem ele é.

O interlocutor demonstra, magnificamente, o sentido de humor não só inglês como britânico, apesar de algumas falhas galesas. "Vá lá, então", diz ele generosamente, "quem és tu?"

"Sou Ronnie Pickering!" diz o grunho três vezes, como se o nome de Ronnie Pickering fosse tão célebre e temido como o de Hércules.

Mistificado, como qualquer um de nós, o motoqueiro perguntou quem da fãque é Ronnie Pickering?

"Sou eu!", gritou Ron Pickering.

Ficámos todos a saber.

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