Retratos de utilizadores da ADSE: o João tem, a Elisabete não

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Nélson Garrido

João tem 30 anos, Elisabete, 31. Ele é técnico de informática na Administração Central do Estado, ela assistente social numa autarquia. Vivem juntos há dois anos e, até agora, a conversa sobre serviços de saúde não era frequente.

Só que, com a ideia de aumentar a família, colocou-se um problema: apesar de serem ambos funcionários públicos, João tem ADSE e Elisabete não teve essa hipótese quando, em 2011, assinou o contrato individual de trabalho ao fim de quase cinco anos de "recibos verdes". Há uns anos, se um dos elementos do casal tivesse esta cobertura, podia estendê-la ao outro; mas agora as regras mudaram e João só poderá alargar a ADSE aos eventuais filhos.

“É injusto que uma colega minha que ganhe o mesmo que eu, descontando o mesmo, tenha o parto e os outros cuidados cobertos e eu, por ser homem, não, quando, no fundo, isto é uma despesa dos dois, uma coisa do casal”, defende João. Neste momento, desconta mais de 50 euros por mês para a ADSE, ainda apenas com os 2,5% de prestação. Quando entrou para o Estado, também em 2011, tal como Elisabete, mas com condições de contrato diferentes, aconselhou-se  com os colegas. “Alguns optaram por não ter e preferiram fazer um seguro privado, mas eu informei-me e considerei a ADSE mais vantajosa, por não ter limites. Mas sinto que vamos perdendo coberturas e, se continuarem assim a aumentar as contribuições, deixa de compensar para quem ganha mais e, se essas pessoas saírem, depois não há contribuições suficientes para o sistema continuar a funcionar”, acrescenta.

A Elisabete não resta alternativa senão fazer um seguro privado para poder garantir liberdade de escolha no obstetra. Se lhe dessem hipótese de ter ADSE, como ganha menos, pagaria pouco mais de 30 euros por mês. Até agora, do que sondou no mercado, não há nenhum seguro de saúde que por esse valor cubra tantos serviços. “As duas ofertas que estou a analisar vão dos 36 euros aos quase 70 euros”, sendo que na primeira há plafonds muito mais baixos e muita coisa fica de fora, pelo que no seu caso sabe que compensaria largamente a ADSE. “Isto para não falar dos períodos de carência, por exemplo para o parto, que em muitos casos são de mais de um ano”, lamenta, ainda que aquilo que procure seja mais o acompanhamento pelo obstetra até esse momento e cuidados de medicina dentária, não se importando de depois ter o bebé num hospital do SNS. Por agora vão continuar a estudar as ofertas e pedir mais simulações, antes de contribuírem para a natalidade.

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