Reservado é você

O alívio e o conforto impedem-nos de perceber que a palavra "reservado" está mal.

Dizem que o hábito começou nos anos 60 quando os vinhos verdes do Minho quiseram vender-se no Portugal quente do Sul. A verdade é que até hoje continua, cada vez que alguém telefona para guardar uma mesa, a prática de colocar sobre a dita mesa um assinalador uni ou tridemensional que diz, literalmente: "Reservado".

Ultimamente, nos restaurantes que mais amo, tenho-me dedicado a perguntar aos empregados meus amigos - e cúmplices em quase todas as coisas e certamente em todas as comidas - a que se refere aquele "Reservado".

Todos concordam, imediatamente, que se trata de um erro. A mesa é "reservada" e não "reservado". A culpa é duma língua sem diferenciação (ia dizer) sexual, em que tanto faz "reservado" como "reservada".

Que coisa pode dizer-se "reservado"? Este lugar, onde hão-de sentar-se pessoas para almoçar ou jantar, está reservado? O uso ou usofruto desta mesa está temporariamente reservado para quem telefonou primeiro a reservá-lo?

A verdade é que os objectos impressos que defendem as mesas de visitantes espontâneos e usurpadores deveriam soletrar "reservada", por atenção à mesa, em vez do analfabeto "reservado".

São tantos os pontapés na gramática na nossa vida comum que ficamos imunes aos dislates. Chegamos a um restaurante onde marcámos (pedimos para nos guardarem) uma mesa e sentimo-nos confortados por se terem lembrado de nós.

O alívio e o conforto impedem-nos de perceber que a palavra "reservado" está mal. E mete nojo.

 

 

 

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