Reparar é viver

Reparar é salvar. Reparar é guardar. Reparar é respeitar o que se comprou.

Foi nos anos 20 que as 20 maiores produtoras de lâmpadas se reuniram em Genebra para encurtar a vida de cada lâmpada de 2500 horas para 1500 horas. Conspiraram com êxito para piorar, com algum custo, todas as lâmpadas do mundo para poderem vender mais lâmpadas. Em 5 anos, dizia o documento que todos assinaram, venderiam o dobro do que vendiam. E venderam.

A obsolescência premeditada e incluída nos produtos, para durarem menos tempo e terem de ser rapidamente substituidos, aperfeiçou-se muito nos últimos cem anos. Apesar de ser muito superficial, gratuita e sectária, vale a pena ver a série The Men Who Make Us Spend - que Jacques Peretti fez para a BBC 2.

Se não puder não faz mal. Vá à ifixit.org para ler, ver e aprender uma elegia à reparação dos produtos que estupidamente dizemos, quando avariam, que preferimos comprar novos.

É preciso ler Nietzsche para nos lembrarmos das nossas escravidões. Se gosta de Freud e de Derrida e não tiver dinheiro ou paciência para ler A Genealogia da Moral, escreva "Judith Butler On Cruelty" no Google e irá parar, grátis, a uma avaliação bem feita dos problemas escusados da dívida, da culpa e do esclavagismo interiorizado, no sempre excelente London Review of Books.

Reparar é salvar. Reparar é guardar. Reparar é respeitar o que se comprou. Reparar é nadar, ir e remar contra a maré. Reparar é sublime. Reparar é a lealdade forreta que reside em todos os nossos egoísmos e esquemas de não gastar.

Reviva!

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