Reclusos hospitalizados por causa de "poderoso anestésico" tinham sido condenados por tráfico

Ministério Público abriu inquérito e a PJ de Coimbra está a investigar. Resultados de exames que confirmem o consumo de cetamina, tranquilizante para cavalos, deverão ser conhecidos esta terça-feira. Reclusos continuam em risco de vida.

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Reclusos fugiram da cadeia do Montijo, na margem Sul do Tejo Paulo Pimenta

Os oito reclusos internados de urgência este domingo no Hospital de Amato Lusitano, em Castelo Branco, continuam em perigo de vida, adiantou esta segunda-feira o presidente do conselho de administração daquela unidade de saúde, Vieira Pires. "Os oito doentes [reclusos da cadeia de Castelo Branco] estão todos na unidade de cuidados intensivos polivalentes [UCIP]. É uma situação grave. Os doentes mantêm-se em estado estacionário em relação ao dia de ontem, num estado considerado grave, ainda com risco de vida", informou Vieira Pires durante uma conferência de imprensa realizada no hospital para fazer o ponto de situação sobre o estado clínico.

Em causa estão homens entre os 27 e os 53 anos de idade que estão a cumprir penas entre os três e os 10 anos de prisão por crimes de tráfico de estupefacientes e, alguns deles, também por furto e roubo, referiu ao PÚBLICO a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP).

Os reclusos terão consumido cetamina, um poderoso anestésico conhecido como “tranquilizante de cavalo”, que terá sido introduzido por uma visita na manhã de domingo na cadeia de Castelo Branco. Foi a DGRSP que sublinhou que terá sido aquele tipo de sustância a provocar a intoxicação, mas fonte da Polícia Judiciária, que está a investigar o caso, alertou que ainda estão a ser realizados exames toxicológicos para identificar a substância consumida. A investigação da PJ de Coimbra decorre no âmbito de um inquérito aberto no Ministério Público de Castelo Branco.

Também o presidente do conselho de administração do hospital referiu não ser possível “neste momento, dizer de modo nenhum, qual foi a substância”, admitindo que terá sido “provavelmente uma mistura de substâncias inaladas ou ingeridas”. Segundo Vieira Pires, o hospital tem estado em contacto com o Instituto de Medicina Legal e só “amanhã ao fim da tarde” se saberá o resultado das análises.

Vieira Pires adiantou ainda que os oito reclusos estão ventilados, salientando que os médicos tentaram “retirar o ventilador a um deles”, sem sucesso. O ventilador teve de ser novamente aplicado uma vez que o “recluso não conseguiu respirar por si”. Um dos reclusos estará com graves problemas respiratórios depois de um dos pulmões ter deixado de funcionar, segundo fonte dos serviços prisionais. 

O director clínico do hospital de Castelo Branco, Rui Filipe, esteve também na tarde desta segunda-feira reunido com os familiares dos reclusos para lhes prestar informação pormenorizada sobre o estado de cada um, adiantou fonte hospitalar. Um dos reclusos terá encomendado a cetamina através da Internet num site holandês e a substância terá sido recebida em casa de um familiar que entretanto a levou para a prisão, salientou ao PÚBLICO fonte dos serviços prisionais. 

Durante as visitas, os familiares não são alvo de revista corporal, passando apenas no detector de metais e deixando os seus pertences na entrada, isto porque os guardas prisionais, não sendo elementos de um órgão de polícia criminal, não podem proceder a revistas como a PSP, a GNR e a PJ. Contudo, no regresso às celas os reclusos são revistados pelos guardas para evitar a introdução de substâncias ilegais nas cadeias. "A prisão de Castelo Branco enfrenta um défice de guardas prisionais. Isto poderia não ter sucedido com mais elementos para proceder a procedimentos de segurança mais atempados", disse ao PÚBLICO o presidente do Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional, Júlio Rebelo. Uma equipa de guardas prisionais continua dia e noite naquele hospital em permanente vigilância dos reclusos internados.

A DGRSP salientou que os reclusos “eram regularmente acompanhados pelos serviços clínicos e de psicologia do Estabelecimento Prisional de Castelo Branco”, mas não explicou por que motivos.

As estatísticas da DGRSP fornecidas ao PÚBLICO mostram que em todo o sistema prisional, entre 2013 e 2014, verificou-se um “aumento do volume de apreensões de 35% no haxixe e de 47% na cocaína, tendo diminuído em 63% a heroína apreendida”.  

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