Radiotelescópio que escuta a Via Láctea é hoje inaugurado

Tem nove metros de diâmetro e nasceu da parceria entre um cosmólogo português e um Nobel norte-americano. A missão: estudar o Big Bang.

Com nove metros de diâmetro, é uma orelha gigante à escuta da Via Láctea perto da aldeia de Fajão, Pampilhosa da Serra. Inaugurada hoje, a antena irá ajudar a estudar o Big Bang e o que aconteceu nas primeiras fracções de segundo do Universo, num projecto internacional que envolve o premiado com o Nobel da Física de 2006, George Smoot.

Tudo começou quando o cosmólogo português Domingos Barbosa, agora do Instituto de Telecomunicações da Universidade de Aveiro (UA), fazia uma pós-graduação com George Smoot no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia. Smoot, que ainda não tinha ganho o Nobel, procurava um sítio no hemisfério Norte para instalar um radiotelescópio e aprofundar os estudos da radiação cósmica de fundo, o nome da luz que é um vestígio do Big Bang, ocorrido há cerca de 15 mil milhões de anos. Essa radiação, que banha todo o Universo, é agora detectada como microondas (Smoot, com outro cientista, concebeu e analisou os resultados do satélite Cobe, que permitiram construir o primeiro mapa detalhado da radiação do Universo primitivo).

Foi então que Domingos Barbosa sugeriu a Smoot: e por que não Portugal? O cosmólogo português regressou em 2003 e percorreu o país de carro à procura do melhor local para o radiotelescópio. Uma elevação conhecida como cabeço do Carvalhal, no lugar de Porto da Balsa, na freguesia de Fajão, foi escolhida para instalar as antenas que escutarão as microondas da Via Láctea.

A ideia é cartografar a contaminação por microondas (que são ondas rádio) da nossa galáxia nos dois hemisférios, para depois retirar esse "ruído" das medições da radiação cósmica de fundo deixada pelo Big Bang. Smoot já andava a fazer o mesmo no hemisfério Sul, nomeadamente no Brasil.

Mas a medição das emissões da Via Láctea podem destinar-se a várias missões de rastreio da radiação cósmica de fundo - como por exemplo o teles- cópio espacial Planck, da Agência Es- pacial Europeia (ESA), lançado em 2009 e cujos dados servirão para cons- truir mapas ainda mais detalhados dessa radiação. Neste momento, está em discussão um acordo entre a equipa do telescópio Planck e a do radiotelescópio de Pampilhosa da Serra, que tem como parceiros o Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, o Instituto de Telecomunicações da UA, a Universidade de Milão e o Instituto de Pesquisas Espaciais do Brasil.

Promover a Ciência

A antena inaugurada hoje é apenas a primeira. Graça Rocha, do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA e do Instituto de Tecnologia da Califórnia, que faz parte da equipa principal do Planck, vai lá estar. Luís Mendes, outro português da equipa principal do Planck, também, entre outros investigadores oriundos de toda a Europa.

Dentro de quatro meses, será inaugurada outra antena de nove metros de diâmetro. No final do ano, diz Domingos Barbosa, haverá uma terceira antena, mais pequena, para fins educativos. Inicialmente ficará no centro da vila de Pampilhosa da Serra, mas depois irá mudar-se para a serra.

"É a zona do país com maior insu- cesso escolar", refere Domingos Barbo- sa, acrescentando que a ideia é usar a antena pequena na promoção das ciências e tecnologias do espaço. Os alunos vão controlá-la através da Internet, na sala de aulas.

Notícia corrigida às 9h50
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