Quem controla o passado é dono do futuro*

O discurso sobre as drogas tem que encontrar o sentimento da realidade.

Sem argumentos científicos, contra a realidade e o seu usufruto, só para beneficio de alguns e de um sistema de controle social avança. Ou melhor também vai recuando.

Podia estar a falar do execrável Acordo Ortográfico mas no caso estou a referir-me ao Anti-proibicionismo. Que também é controle sobre os discursos e a sua forma, é a forma de encerrar os espíritos numa estrutura moldada por um Estado que impôe regras e proibições a seu bel-prazer.

O Anti-proibicionismo, se bem que recue aos inícios do século XX, só a partir dos anos 60, quando o ex-advogado da Mafia, Richard Nixon (veja-se quem benefecia o dito...) declara a guerra contra as drogas começa a gerar lucros milionários (das mafias), um estado-prisão, forças de repressão e despesas inúmeras em processos e tribunais. E mortos, pela consumo adulterado, e prostituição para obter o produto proibido e roubos e crimes pelo mesmo e guerras e narco-tráfico e comércio de armas (lembrar o irãogate! Ou o Noriega).

A conversa é longa, em livro recente Um Grão de Areia em 40 anos de cidadania e Ambientes desenvolvo o tema.

Mas assim como o tal Acordo está completamente desacreditado, embora continue avançar, é possível alterar este estado de coisas.

Hoje avança nos Estados Unidos a legalização da Maria, estado a estado, em grande número de Estados já está legalizada para fins terapêuticos ou medicinais. No Uruguai vai, pesem alguns problemas legislativos, de fumo em popa, e noutros países o processo de legalização, muitas vezes tornar de direito situações de facto, é irresistível.

Em Portugal, globalmente, a situação já esteve muito pior, hoje é possível, com discrição, dar uma fumeta, por aqui e por ali, e o auto-cultivo vai-se desenvolvendo, pesem os constrangimentos legais, por sótãos e jardins.

Mas é num quadro europeu e mundial que se tem que considerar o problemas das drogas, a luta contra o proibicionismo de todas as drogas, que deve ser estrategicamente o desiderato do movimento, também do nosso, que agora e correctamente do ponto de vista operacional se centra na Marijuana.

Tenho que dizer que considerei inclassificável a intervenção do representante de um partido político (o PS) numa das anteriores Marchas que aplicou às outras drogas o anátema que queremos retirar do cânhamo.

O uso de drogas, terapêuticas, medicinais ou lúdicas deve obedecer a quadros legais, ser controlado e encontrar tributação financeira adequada, só assim se poderá equacionar e desestruturar a lógica do Estado-Papá que legitima as nossas sociedades da contra-insurgência sobre as drogas, e investir em vez de tribunais, prisões e repressão em educação, sanidade e profilaxias.

O discurso sobre as drogas tem que encontrar o sentimento da realidade.

Hoje esse encontra-se em e na Marcha! Que também tem que se recentrar politica e estrategicamente, mas essa é outra conversa...

A marcha acontecerá no sábado, dia 2 de Maio, com uma concentração às 15:00 no Jardim da Mãe d'Água e partida às 16:20 no Largo do Rato em direcção ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, -  concentração até às 22:00 com música.

Escritor, um dos mandatários da Marcha, escritor

 

*Escreveu George Orwell, talvez sobre o efeito de psicotrópicos, e vejam como é verdade!

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