Que características deve um jovem ter para arranjar emprego?

Responsabilidade, disponibilidade para aprender, pró-actividade e iniciativa, motivação e vontade de trabalhar em equipa são as competências sociais e transversais mais valorizadas pelos empregadores. Estas são algumas das conclusões do estudo que é apresentado nesta terça-feira.

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Estudo quer contribuir para a redução do desemprego jovem em Portugal Nelson Garrido

Para os empregadores, responsabilidade não é só chegar a horas. É avisar quando se tem de faltar, justificar, pedir autorização, devolver chamadas não atendidas, cumprir prazos ou avisar com antecedência quando não for possível, “demonstrar brio profissional”. Este conceito de responsabilidade é, segundo uma investigação da TESE - Associação para o Desenvolvimento apresentado nesta terça-feira, a competência social e transversal mais valorizada pelos empregadores.

O estudo cita o relatório Educação para o Emprego: Pôr a Juventude Europeia a Trabalhar, da consultora McKinsey & Company, divulgado este ano, segundo o qual três em cada dez empregadores portugueses afirmam não estar a preencher as vagas na totalidade por não encontrarem candidatos com as competências que procuram. E elas são, segundo a investigação da TESE, no que toca às competências sociais e transversais e depois da responsabilidade, a disponibilidade para aprender, a pró-actividade e iniciativa, a motivação e o trabalhar em equipa.

Intitulado Faz-Te ao Mercado: Estudo sobre o (Des)Encontro entre a Procura e a Oferta de Competências no Mercado de Trabalho e a sua Relação com a Empregabilidade Jovem, o estudo tem como público-alvo os jovens entre os 15 e os 30 anos. A TESE, que é uma organização não-governamental que, entre outros, promove projectos na área da empregabilidade jovem, centrou-se nas competências sociais e transversais - as características dos jovens, a “forma de ser”, os comportamentos - e não nas técnicas.

As conclusões mostram que, para os responsáveis pelos recursos humanos, a responsabilidade é a mais valorizada – é escolhida como uma das cinco principais por 61,1% e como a mais importante por 41%.

No top 5 está ainda a “disponibilidade para aprender” - 45,8% dos empregadores destacam-na e 30% apontam-na como a mais importante. O que é? É “querer desenvolver mais as capacidades e conhecimentos”, procurar “feedback para melhorar”. É aceitar “com entusiasmo” uma tarefa que, mesmo indo “além” da formação do jovem, é encarada como “uma oportunidade para se desenvolver”.

Já pró-actividade é escolhida como uma das cinco principais por 51,4% dos empregadores e como a mais importante por 19%. É a “capacidade de iniciar actividades e desenvolvê-las sem que alguém peça; ir à procura de desafios novos; ser autodidacta”. É terminar uma tarefa e procurar “junto do chefe ou colegas outra coisa em que possa prestar apoio”.

A motivação é destacada por 38,9% como uma das cinco mais importantes e como a mais relevante por 29%. Trata-se de “estar entusiasmado com o trabalho que está/quer fazer”, de ter “objectivos definidos” e “capacidade de ultrapassar obstáculos e frustrações”.

O trabalhar em equipa foi incluído no top 5 por 45,8% dos empregadores, surgindo como primeira opção para 1%. Consiste, entre outros aspectos, em “conseguir gerir o relacionamento e conflitos com os outros, saber comunicar bem”.

Quanto à perspectiva dos jovens, a investigação destaca três escolhas – responsabilidade, motivação e pró-actividade e iniciativa. 58,8% entendem que a responsabilidade é uma das competências sociais e transversais mais importantes e 32,8% apontam-na como a mais importante. A motivação é considerada uma das mais relevantes para 39% dos jovens e como a mais importante para 40,6%. A pró-actividade é realçada por 42,4% e para 17,8% é a mais importante.

É no trabalho em equipa e na resiliência que há mais “desencontros” entre a perspectiva dos empregadores e a dos jovens – a primeira competência foi escolhida por apenas 31,9% dos jovens e a segunda por 26,1% (apesar de a resiliência não estar no top 5 dos empregadores, ela foi considerada importante por 42%). A investigação da TESE permitiu ainda identificar que, “em quase todas as competências, são as avaliações dos jovens que nunca trabalharam que mais se aproximam das avaliações dos empregadores”. E que há “lacunas ao nível do autoconhecimento dos jovens”, isto é, consideram que têm mais competências do que a avaliação feita pelos empregadores.

Pontes com mercado
Na pergunta “Que tipo de preparação para o mercado de trabalho é feita pelas instituições de ensino?”, a investigação permitiu verificar que “faltam pontes com o mercado de trabalho” e que há “lacunas ao nível das experiências práticas ao longo do percurso formativo”. Por exemplo, numa escala de 1 a 5, os recursos humanos consideram que, na formação dos jovens, os “conhecimentos práticos” estão no nível 2,58 e a atenção dada às “necessidades do mercado” no patamar 2,83.

Nos documentos disponibilizados pela TESE, considera-se ainda que o sistema de ensino revela “pouca capacidade” para “preparar os jovens para a entrada no mercado de trabalho” e as autoras deixam algumas sugestões: “introduzir mais experiências práticas e de formação em contexto de trabalho”; “criar pontos de ligação entre as universidades e as empresas” e “assegurar uma maior adequação dos currículos às necessidades do mercado de trabalho”. Às instituições de ensino, aconselha-se ainda o “afastamento dos processos de estandardização do ensino e da formação dos currículos que não explora as potencialidades de cada indivíduo”.

Outras recomendações passam por “reforçar o autoconhecimento” dos jovens, apostar em “programas de mentoria, de desenvolvimento de talentos e de competências, dentro e fora do sistema de ensino”. Nas empresas, as autoras recomendam “um melhor acompanhamento das primeiras experiências profissionais” e dar mais feedback aos jovens. Quanto às políticas e medidas públicas de incentivo ao emprego jovem, como por exemplo estágios profissionais, recomenda-se “o bom acompanhamento dos estagiários”.

Já os jovens devem “apostar na diversificação e expor-se a diferentes experiências extra-escola”. Exemplos: “experiências de mobilidade internacional”, de voluntariado, entre outras. São “altamente valorizadas pelos empregadores”, alertam as autoras.

A directora-executiva da TESE, Helena Gato, lamenta que, em Portugal, haja uma “elite” com mais capacidade para investir nestes tipo de competências e que o ensino público não invista mais nelas. Alega que continua a haver famílias com mais capacidade para suportar actividades ou programas no estrangeiro, o que não assegura as mesmas “oportunidades” a todos.

Em www.fazteaomercado.org, estarão disponíveis o estudo, as recomendações e um guia para os jovens. Nesta terça-feira, haverá ainda workshops sobre estas temáticas, dirigidos a jovens, numa iniciativa que contará com a presença do secretário de estado do Emprego, Octávio Oliveira.

O trabalho foi feito pela TESE (investigadoras Ana Oliveira e Rita Silva e coordenado por Helena Gato) e incluiu contributos de 434 jovens, 10 instituições de ensino superior privadas, públicas e ensino profissional, 84 empresas empregadoras e quatro entidades da sociedade civil que trabalham a empregabilidade jovem. Feito entre Dezembro de 2013 e Janeiro de 2014, foi financiado pelo Programa Operacional de Assistência Técnica do Fundo Social Europeu e pelo Quadro de Referência Estratégico Nacional.

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