PSP proibiu escudos e protecções para dar melhor imagem no Marquês

Polícias tiveram de fugir e 16 ficaram feridos depois de agredidos e atingidos por garrafas de vidro e pedras. Oito deles estão fora de serviço com baixa médica e um está em risco de perder a visão.

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Incidentes na Rotunda do Marquês, em Lisboa, acabaram por marcar a festa do título do Benfica MIGUEL MANSO

A PSP deu parecer prévio negativo aos moldes em que foram organizados os festejos da vitória do Benfica, na Rotunda do Marquês, em Lisboa, considerando que a segurança de adeptos e polícias poderia estar em risco, mas proibiu os agentes do Corpo de Intervenção (CI) de usarem equipamentos de protecção, os capacetes e até os escudos. Fontes policiais adiantaram ao PÚBLICO que algumas normas, que obrigam ao uso daquele equipamento em situações de reposição de ordem pública, poderão ter sido violadas e que esta actuação deverá também ser investigada no âmbito do inquérito aberto pela própria PSP e pela Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI).

O objectivo era dar melhor imagem à actuação policial. A Câmara de Lisboa e o Benfica discordaram do alerta da PSP e pressionaram para que a festa se fizesse daquela forma. Dezenas de agentes foram socorridos por técnicos do INEM colocados perto de ambulâncias nas imediações. Alguns tiveram de ser carregados aos ombros por colegas até lá. Questionada pelo PÚBLICO, a Direcção Nacional da PSP não se pronunciou até à hora de fecho desta edição.

Poucos minutos depois de entrarem em terreno, centenas de agentes tiveram de fugir para as carrinhas, agredidos e atingidos por pedras e garrafas de cerveja. Oito dos 16 agentes ficaram feridos com lesões mais graves e estão agora ausentes do serviço com baixa médica. Um deles, atingido com uma garrafa de vidro num olho, corre o risco de perder a visão, adiantaram fontes da PSP.

Os polícias exigem que no âmbito dos processos abertos, quer na PSP quer na IGAI, os oficiais responsáveis pela ordem sejam responsabilizados. “Não é compreensível como é que é dada uma ordem que coloca em causa a vida dos agentes, apesar de se saber do risco que corriam. Dos inquéritos tem de resultar a responsabilização de quem deu essa ordem mal dada”, considera o presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia, Mário Andrade. Também o presidente do Sindicato Nacional de Polícia, Armando Ferreira, sublinha a preocupação “de a integridade física dos agentes ter sido colocada em causa por uma ordem” da própria PSP.

Logo na segunda-feira, a PSP referiu em comunicado que, “durante o restabelecimento da ordem pública, ficaram feridos 16 polícias com escoriações várias, devido sobretudo ao arremesso de pedras, garrafas de vidro e com material pirotécnico, havendo um veículo da divisão de trânsito com um vidro partido”, mas não explicou o que esteve na origem do descontrolo. Agentes envolvidos e feridos na operação narraram ao PÚBLICO momentos de pânico em que não lhes restou mais do que fugir.

Terá sido o comandante e o segundo comandante do corpo de intervenção a dar a ordem no briefing. Não queriam que os agentes surgissem com um ar demasiado bélico e ostensivo naquele momento que era afinal de festa. Logo então, vários elementos questionaram a ordem estupefactos face ao conhecimento do parecer negativo que sublinhava a possibilidade de violência e de descontrolo naquele cenário. Perante o sucedido, o clima actual no corpo de intervenção da PSP em Lisboa, que tem cerca de 300 elementos, é de indignação. Mesmo quando corriam para chegar às 30 carrinhas, a cinco minutos do local e onde estava o equipamento, foram apedrejados.

No local, o primeiro grupo a ser agredido foi um com 90 agentes mal se embrenharam na multidão. A seguir, entraram no Marquês os agentes com cães-polícia e outro grupo de 90 agentes. Nenhum deles estava com protecções e foram recuando a correr para as carrinhas em grupos de 60 elementos de cada vez. Face ao descontrolo, rapidamente a ordem do comando do CI foi ignorada. Os comandantes de cada grupo ordenaram aos agentes que corressem e se equipassem, confirmou fonte da PSP.

O subinspector-geral da Administração Interna, Paulo Ferreira, não quis comentar. Recordou que foi aberto um processo que averigua o que se passou em Lisboa e em Guimarães. O subcomissário visado nesse inquérito e num processo-crime por ter agredido um adepto em Guimarães continuará ao serviço como comandante da esquadra de investigação criminal. O adepto entregou esta quarta-feira uma queixa-crime em que sublinha que foi agredido com um bastão de aço.

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