Provas de 19 professores foram corrigidas segundo critérios errados

Correcções dos problemas “foram já efectuadas para todas as provas”, garante Iave. Erros de classificação existem sempre e são, neste processo, residuais, alega.

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A origem do erro está na inscrição manuscrita dos códigos da prova nas folhas de resposta adriano miranda

Não se sabe ainda quantos professores vão requerer a revisão da Prova de Avaliação de Capacidades e Conhecimentos (PACC). Sabe-se que apenas 132 pediram, para já, para consultá-la. Rita A. foi uma delas — assim se identifica uma professora que escreveu ao júri nacional do exame para apresentar uma reclamação. Fez a prova cujo enunciado tinha o código 1000 02 e na segunda-feira ficou a saber que chumbou. Mas percebeu também que o seu teste tinha sido corrigido como se fosse outro exame: o que tem o código 1000 01. Ou seja, foi usada a chave de respostas errada.

Contactado pelo PÚBLICO, o Instituto de Avaliação Educacional (Iave) confirma este — e outros casos. “A incorrecção identificada pela candidata não é caso único. Existem 19 situações em que foi identificada uma troca da chave de resposta, o que representa 0,19% do total de provas classificadas e validadas.”

Publicada no blogue de educação de Arlindo Ferreira, a exposição de Rita A. ao júri defende o seguinte: “O resultado de Não Aprovado apresentado não é válido e exijo a correcta classificação da prova; exijo, ainda, a republicação do resultado correcto na lista nacional em virtude de terem denegrido a minha imagem pública enquanto professora competente.”

O Ministério da Educação divulgou publicamente a lista com todos os aprovados na PACC quando, na segunda-feira, foram finalmente conhecidos os resultados do exame a que se sujeitaram mais de 10.200 professores — 86% passaram. Nessa lista não estava o nome de Rita.

O Iave diz que não foram detectados até agora muitos erros, fala de números residuais. Mas lembra que “a classificação de provas, no âmbito de um processo de avaliação, comporta sempre incorrecções, pelo que é condição essencial o direito à consulta e à reapreciação das provas”. Só na próxima semana será possível saber quantos docentes pediram a reapreciação do exame — ainda decorrerem os prazos para a formalização desse pedido.

Fica a garantia do Iave de que a verificação e correcção de situações como a descrita pela professora Rita “foram já efectuadas para todas as provas”. Em alguns casos sem que tenha havido qualquer intervenção do candidato.

Problemas de digitalização
A origem do erro está, acrescenta ainda a resposta enviada ao PÚBLICO, na inscrição manuscrita, por parte dos professores que fizeram a prova, dos códigos da mesma. “A ocorrência do erro descrito é consequência de inconsistências no processo de digitalização das folhas de resposta decorrentes do reconhecimento automático da grafia dos próprios candidatos. A inscrição manuscrita do código 1000 01 ou 1000 02 ou do código 1000 05 ou 1000 06, respectivamente no que se refere às provas realizadas no dia 18 de Dezembro de 2013 ou no dia 22 de Julho de 2014, constitui a única razão para a troca de chave na classificação dos 32 itens de escolha múltipla.”

Os candidatos que entretanto pediram consulta de prova serão ressarcidos do valor pago — os pedidos de consulta da prova custam 15 euros cada e os pedidos de reapreciação, 20 euros, de acordo com a Lusa.

Os que não pediram verão também a sua classificação corrigida. O que não quer dizer que passem de “não aprovados” para “aprovados” — “essa alteração depende da pontuação obtida nos diversos itens de escolha múltipla classificados de acordo com a chave correcta e ainda da pontuação obtida no item de resposta extensa orientada”, esclarece o Iave.

A muito contestada prova, obrigatória para professores contratados com menos de cinco anos de serviço que queiram continuar a dar aulas, continha itens de escolha múltipla e um outro que pedia aos professores um texto de 250 a 350 palavras. É esta última componente que mais polémica tem dado. Quase dois terços ( 62,8%) dos docentes escreveram com um ou mais erros ortográficos. O secretário-geral da Federação Nacional de Professores, Mário Nogueira, diz que com a divulgação destes resultados, a PACC está a cumprir  a sua missão de “denegrir a imagem dos professores, achincalhá-los publicamente e, dessa forma, contribuir para a desvalorização da sua imagem social”.

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