Protesto contra a violência policial juntou algumas dezenas em Lisboa

Manifestantes exigem fim das operações do Corpo de Intervenção da PSP nos bairros periféricos da capital.

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Miguel Manso

À beira do Rossio, o Largo de São Domingos é uma das principais salas de estar africanas de Lisboa. Neste sábado, Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, algumas dezenas de pessoas concentraram-se ali em protesto contra a violência policial, em resposta ao apelo feito por um grupo de moradores dos bairros periféricos de Lisboa e de activistas de movimentos sociais.

Lema  escolhido: “Vidas negras importam”. Ana Fernandes, 35 anos, foi uma das organizadoras do protesto. “Sou negra, portuguesa, estou a criar uma filha e quero que me digam se a minha vida tem ou não valor”, diz ao PÚBLICO. Ana nasceu em Portugal, vive em Lisboa e cresceu na Cova da Moura, um dos bairros da periferia que soma mais incidentes com a polícia. Vivia lá quando, em 2001, um jovem de 17 anos foi baleado pelas costas durante uma perseguição policial. Nunca mais esqueceu.

Também trabalhou como animadora sociocultural no Moinho da Juventude, uma associação que faz intervenção social no bairro e a cuja direcção pertencem dois dos cinco jovens que em Fevereiro apresentaram uma queixa-crime por tortura na esquadra de Alfragide, onde dizem terem sido espancados por agentes depois de mais uma intervenção da PSP no bairro. Uma das reivindicações do protesto de sábado tem a ver com este episódio. “Queremos que seja feita justiça. Há um comandante, da esquadra, que tem de ser responsabilizado, bem como os agentes que lá estavam nesse dia”, resume Ana.

O Dia Internacional para a Eliminação da Descriminação Racial assinala a morte de 69 negros sul-africanos, assassinados pela polícia quando participavam num protesto em Sharpeville. Em Lisboa, junto às quitandeiras que costumam vender pequenos sacos com frutos secos no Largo de São Domingos e aos homens negros que têm naquele sítio um ponto de encontro certo para pôr conversas em dia, foram montadas pequenas bancas com livros sobre imigrantes e comunicados onde se exige ainda “a criminalização dos actos de tortura e de ódio racial e o fim imediato das operações policiais do Corpo de Intervenção Rápida nos bairros”. A razão para tal está também descrita nestes comunicados: “Não admitimos que os bairros onde vivemos sejam territórios de excepção do Estado de Direito, onde a polícia espanca e dispara contra pessoas indefesas”.

 

 

 

 

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