Proporções do amor

Partilhar, quando se ama, é um verbo positivo, no pior e mais negativo sentido matemático e romântico.

Nos últimos dias, o mar nas furiosas praias de Colares tem conseguido correr com as ondas, sem ser as mais pequenas, só para refrescar as testas.

Tem sido novo e misterioso nadar na Praia das Maçãs e na Praia Grande sem hipótese de susto ou de medo.

Só a Maria João tem faltado, durante as poucas horas que passa, divertida, com a divertidíssima mãe dela. Escrevo "só" no sentido dramático e poético de António Nobre e não como sinónimo do britânico "apenas".

Nadando sozinho, sem a Maria João, percebo que partilhar, quando se ama, é um verbo positivo, no pior e mais negativo sentido matemático e romântico.

Quando se partilham coisas que se têm de dividir entre pessoas - horas do dia; sangrias; charutos; fatias de presunto - quanto mais pessoas, menos fica para cada um de nós.

Mas quando é a partilha que dá valor à amizade e ao amor perde-se por não poder partilhar qualquer prazer que se é obrigado a sentir sozinho.

Posto em palavras mais simples: a qualidade de nadar na bonança do mar aumenta quando a partilho com o meu amor e diminui quando não posso partilhá-la com ela.

A partilha acaba por ser uma multiplicação. Entre 0 e 100, sendo 0 o inferno e 100 o paraíso, nadar sozinho é 40 e nadar com quem se ama é sempre 100. Não poder nadar, nem sequer sozinho, nem sequer é zero: são cem graus negativos.

As coisas materiais diminuem quanto mais se distribuem. É esse o bem e o mal delas. As coisas ideais crescem quanto mais se concentram.

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