Professores dizem que o MEC está a pôr “os alunos a fugir da Matemática”

Os resultados conseguiram ser piores do que os do ano passado, quando se registou a média mais baixa dos últimos sete anos a Matemática. Tendo em conta o conjunto dos alunos internos, a queda foi de 8,2 para 7,8 valores.

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Adriano Miranda

O Instituto de Avaliação Educativa (Iave) fala numa “ligeira descida” da média nacional de Matemática A, que foi a mais baixa dos últimos oito anos, mas o vice-presidente da associação de professores daquela disciplina (APM), Jaime Carvalho e Silva, considera “esse tipo de comentários inadmissível”. “O Iave não pode andar sempre a apregoar o rigor e a esquecê-lo na hora de fazer os exames e de analisar os resultados”, criticou esta sexta-feira. Frisando que “não adivinha a intenção do Governo”, diz não ter dúvidas das consequências da “falta de qualidade técnica das provas”: “Nos próximos anos vamos assistir a uma fuga dos alunos à Matemática”, avisa.

Factos, é o que pede Jaime Carvalho e Silva. E “esses são”, diz, “claríssimos”. “Os resultados caem cerca de meio valor por ano e baixaram de 10,8 em 2010 para 7,8 em 2014, tendo em conta o conjunto dos alunos internos e externos. E isto acontece porque os genes dos nossos estudantes estão em degradação acelerada e progressiva? Não. Porque os exames estão mal feitos, do ponto de vista técnico, e não servem para nada a não ser para prejudicar os estudantes, individualmente, e para a curto prazo afastar os jovens da disciplina, o que do ponto de vista sócio-económico é gravíssimo”, analisa o dirigente da APM.

O prognóstico dos maus resultados já tinha sido feito por aquela associação no dia em que mais de 46 mil alunos fizeram a prova. Por isso, os dados ontem divulgados pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC) e pelo Iave não a “surpreenderam”. A média dos alunos internos, que são aqueles que têm aulas ao longo de todo o ano lectivo (e que o MEC e o Iave consideram), baixou de 9,7 para 9,2 valores; e a do conjunto destes e dos alunos externos (que se auto-propõem a exame) de 8,2 para 7,8 valores. Isto, enquanto a classificação final interna se mantém mais ou menos estável: 13,5 em 2013 e 13,4 em 2014.

“É incrível: os alunos reprovados caminham para um quarto”, verifica Carvalho e Silva, referindo-se ao facto de no ano passado terem chumbado 20% e este ano 22%. Considera “ainda mais grave que, mesmo passando, “milhares de alunos não atinjam os 95 valores no exame essenciais à candidatura a cursos que em que a disciplina é específica, como as engenharias, por exemplo”. “E não se pode dizer que eles não saibam Matemática”. Quando o exame não corresponde, sequer, ao programa, nem se pode dizer seja o que for a partir destes resultados”, reforça.<_o3a_p>

A opinião quanto à prova, contudo, não é unânime. Esta sexta-feira não foi possível contactar Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), que manteve o telemóvel desligado nas últimas horas da tarde e início da noite. Mas sem considerar o exame fácil, no dia em que ele se realizou, aquela organização científica (que já foi presidida pelo actual ministro) considerou-o equilibrado na sua extensão", "bem estruturado" e "adequado ao seu objectivo".

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