Professores dizem que metas de História e de Geografia do 9.º ano terão de ser corrigidas

As versões finais das metas curriculares, homologadas na sexta-feira, não agradam às associações de professores. No caso de História, a dirigente diz que a tentativa de as cumprir será um obstáculo à formação de alunos críticos e interventivos na sociedade.

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Nuno Crato fez alterações consideradas insuficientes pelas associações de professores de História e Geografia Miguel Manso

Dirigentes das associações de professores de História e de Geografia consideraram nesta terça-feira que as metas curriculares relativas ao 9º ano das respectivas disciplinas, homologadas na sexta-feira pelo ministro da Educação, “representam um retrocesso” e “terão de ser corrigidas”.

“Em relação à proposta, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) fez algumas alterações que tornam esta última versão menos má, apenas isso - mais ano menos ano terão de ser corrigidas”, comentou Emília Sande Lemos, da Associação de Professores de Geografia (APG), sobre as metas curriculares (que definem os conhecimentos e as capacidades essenciais a adquirir pelos alunos em cada ano de escolaridade, especificados em objectivos e em descritores).

Quatro dias depois da homologação dos documentos – que segundo o MEC foram ajustados com base nos contributos recebidos na fase de consulta pública – Marta Torres, da Associação de Professores de História (APH), fez uma avaliação semelhante à da professora de Geografia. Ou seja, “notou melhorias, mas francamente insuficientes”. E sublinhou que “as consequências serão graves se a correcção não se verificar”, já que, diz, “para tentar cumprir as metas” no tempo disponível para a disciplina – objectivo que considera “inalcançável” –, “os professores passarão a debitar a matéria, e a fazê-lo à pressa, apelando à memorização e prescindindo da análise de diferentes fontes históricas, do debate e da reflexão”. “Não é assim que se formam alunos criativos, críticos e intervenientes na sociedade”, comentou Marta Torres, em declarações ao PÚBLICO.

No mesmo sentido, Emília Sande Lemos lamentou que as metas “não deixem espaço e tempo aos alunos para ‘meterem as mãos na massa”, o que na sua perspectiva “é a melhor forma de garantir uma aprendizagem duradoura”. “Geografia no 9º ano tem, no máximo, 135 minutos por semana, o que significa que cada aula de 45 minutos corresponde a uma média de 2,4 objectivos, cada um dos quais implica a aprendizagem de vários conceitos. Não sobrará tempo para a aplicação”, disse.

As metas curriculares e as alterações a programas têm sido criticados por associações de professores. Nesta terça-feira foi o de Matemática do Ensino Básico, que esteve em debate na comissão parlamentar de Educação. O ministro, Nuno Crato, nem admitiu a possibilidade de o revogar, como pede o Bloco de Esquerda, e acusou o PS de "aproveitamento político" dos resultados PISA (a avaliação de alunos da OCDE) por associar a melhoria registada entre 2003 e 2009 ao anterior programa, que só foi completamente implementado em 2010.

No sábado também foi homologadaa versão final das Metas Curriculares de Ciências Naturais do 9.º ano. A dirigente da Associação de Professores de Biologia e Geologia, que acompanhou o processo, disse não ter tido ainda oportunidade de verificar se o MEC procedeu às alterações sugeridas.
 

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