Professor acusado de abusar de nove alunos menores 439 vezes

Foi também treinador em clubes, onde terá igualmente cometido abusos durante sete anos. Passou por escolas de Lisboa, Leiria e Funchal.

Foto
Ainda há alunos sem aulas Nelson Garrido

Durante sete anos um professor de Educação Física, agora em prisão preventiva na cadeia anexa da Polícia Judiciária (PJ) do Porto, terá abusado 439 vezes de nove alunos, alguns deles com necessidades educativas especiais, sem que os pais dos jovens desconfiassem. Num dos casos uma das mães até o autorizou a levar o filho a passar alguns dias num hotel de Lisboa.

Os abusos sexuais, que terão começado em 2007 e durado até Fevereiro de 2014, quando foi detido pela PJ, ocorreram em vários pontos do país. O Ministério Público descreve o docente como um predador sexual que fazia vítimas em todos os locais por onde passava em trabalho. Um dos menores vítima de abusos é familiar do arguido e passou várias vezes férias sozinho com ele. Durante muito tempo, não contou nada aos pais por “vergonha”. 

“O arguido desenvolveu, pelo menos desde os 18 anos, uma forte atracção sexual por crianças do sexo masculino com idades entre os 7 os 12 anos. Com vista a satisfazer os seus impulsos sexuais, sempre procurou empregos nos quais pudesse estar junto de crianças sem supervisão de terceiros, seja como professor de Educação Física, professor de crianças com necessidades educativas especiais ou treinador de futebol”, descreve o Ministério Público na acusação, segundo a qual os abusos ocorreram no Marco de Canaveses, em Lisboa, Leiria e ainda no Funchal. São locais onde deu aulas em escolas públicas do ensino básico ou treinou escalões jovens de futebol.

No Marco de Canaveses, refere a acusação, cometeu alguns dos abusos na casa dos seus próprios pais, para onde convidou um dos menores e esteve ainda com um jovem seu familiar.

O primeiro episódio relatado pelo Ministério Público refere-se a 2007. O professor de 35 anos começou então a treinar o Futebol Clube de Alpendurada, de onde foi despedido em 2008 por motivos que não constam da acusação. Só aí terá abusado de quatro rapazes, sempre nos balneários.

Aproveitava-se do seu ascendente como treinador para subjugar os jovens: “Agiu com o propósito de satisfazer os seus impulsos sexuais lascivos fazendo-se valer do ascendente que possuía sobre as vítimas e que decorria da sua idade e experiência, das funções que desempenhava como treinador e da inerente ingenuidade, imaturidade e falta de experiência sexual dos jovens”, diz o Ministério Público.

A acusação menciona ainda abusos a três menores na escola EB1 Eurico Gonçalves, na Ameixoeira, em Lisboa, onde o arguido deu aulas durante três anos, não apenas de Educação Física como de apoio nas disciplinas de Português, Matemática e Estudos do Meio a alunos com necessidades educativas especiais.

Passou ainda pelo União de Leiria Futebol Clube, em 2009, ao mesmo tempo que continuou a dar aulas na EB1 Outeiro da Fonte, em Carvide, Leiria. Em 2011, passou a ser treinador do Sport Club de Sacavém, onde ficou encarregue dos escalões juvenis.

No Verão de 2012, convenceu a mãe de um rapaz de 10 anos, que encontrou a jogar futebol num parque público na zona da Portela, em Lisboa, de que o menino teria um futuro de sucesso no futebol se o deixasse treiná-lo. Conseguiu assim levar o menor para o Sacavense, para dele abusar.

Chegou a oferecer vários presentes à criança, que era oriunda de um agregado pobre: roupa, sapatilhas, material desportivo, um telemóvel, refeições, viagens e mesada. Os abusos a esse jovem terão continuado em 2013. Levou-o consigo para o Marco de Canavezes e até para o Funchal, na Madeira, quando lá foi a uma entrevista de emprego.

Em Setembro de 2013, acabou por ficar colocado no Centro de Reabilitação Piscopedagógica da Sagrada Família. Terá abusado de um aluno, de 12 anos, e com necessidades educativas especiais que estava internado naquele centro. Terá seduzido o jovem com a promessa de o deixar usar o computador na sua sala.

O advogado do docente, Hernâni Gomes, garantiu que não vai pedir a instrução do processo, o que fará com que o caso vá directamente para julgamento.

Sugerir correcção
Comentar