Escolas privadas mal classificadas nos rankings fecham, públicas não

Fosso entre estabelecimentos de ensino públicos e privados aumentou ao longo dos anos, revela estudo da Nova de Lisboa.

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Daniel Rocha

Como reagem as escolas à publicação dos rankings? Existem diferenças entre as públicas e as privadas? A resposta é sim. As escolas privadas com piores classificações têm maior probabilidade de fechar, diz um estudo da ex-ministra social-democrata Carmo Seabra, de Ana Balcão Reis e de Luís Catela Nunes, da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

Os investigadores pegaram nos dados dos rankings, feitos com base nos resultados dos alunos do 12.º ano, internos, nos exames nacionais e, seguindo os critérios adoptados pelo PÚBLICO, e observaram os dados de 2003 a 2010. Durante este período, em 652 escolas, 515 são públicas e 137 privadas. Destas, 40 abriram durante este período e 57 fecharam, aponta o estudo publicado no livro A Escola e o Desempenho dos Alunos, apresentado e publicado na quarta-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Lisboa, que lança vários debates sobre educação neste mês de Outubro.

Os números do estudo Ranking das Escolas: O Impacto nas Escolas Públicas e Privadas mostram que os alunos das privadas têm médias mais altas do que os do público. Este fosso, nota o estudo, aumentou ao longo do tempo observado – em 2003, os do privado tiveram uma média de 103,6 valores (numa escala de 0 a 200); a do público foi de 100,8. Sete anos depois, a média do privado é de 115,3 e do público 102,5.

Os investigadores analisaram ainda a persistência das escolas em manterem-se nas mesmas posições, ano após ano. Assim, verificaram que há uma estabilidade nos extremos das tabelas, e, no conjunto das escolas com notas mais altas, “a persistência é particularmente mais elevada para as escolas privadas”. Quatro em cada dez escolas que se classificaram no fundo da tabela (no quartil mais baixo), no primeiro ano analisado, ali permaneciam em 2010; enquanto 28% tinham subido para o segundo quartil, 10% para o terceiro e 3% para o quarto. Houve ainda 20% que fecharam.

Os autores reconhecem que as escolas públicas têm menos autonomia, logo, “torna-se mais difícil o seu ajustamento aos rankings publicados”; já as privadas podem fazer uma triagem dos alunos e dos professores, logo, podem trabalhar para ficarem bem posicionadas na lista.

Fecho das privadas
No que diz respeito às que fecharam, os autores notam que houve diferenças entre o público e o privado: 40% das privadas com piores resultados nos exames (no quartil mais baixo) tinham fechado em 2010; contra 14% das públicas.

Se muitas privadas fecharam, as outras resistiram e subiram pela tabela, notam os investigadores que observaram que 84% das privadas que estavam no topo da tabela em 2003 ali permaneceram até 2010; em comparação com 46% entre as públicas. E as restantes privadas que se encontravam a meio da lista fizeram um esforço para melhorar os seus resultados. “Há mais escolas privadas a mover-se para um quartil melhor do que para um pior, enquanto que o oposto é verdadeiro para as escolas públicas”, afirma o estudo.

Quanto às escolas que abriram neste período, os autores observaram que as privadas se classificaram na metade superior da tabela (81%), já a maioria das públicas ficou na parte inferior.

Portanto, os autores concluem que os rankings têm um “forte efeito nas escolas, com diferenças significativas entre as escolas públicas e privadas”, já que as segundas conseguem melhores classificações do que as primeiras, alargando o fosso entre os dois grupos.

E as famílias não são indiferentes aos rankings. “Após a publicação, as escolas mais mal classificadas têm menos alunos e enfrentam uma maior probabilidade de fecharem”, com um impacto maior nas privadas.

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