Presidente da Associação dos Professores de Português não vai corrigir provas dos docentes sem vínculo

A título individual, Edviges Ferreira já rejeitou o convite que lhe foi feito, alegando que a proposta de pagamento de três euros por prova “é ridícula”.

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João Guilherme

A presidente da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Ferreira, revelou nesta quinta-feira que, a título individual, já avisou o Ministério da Educação e Ciência (MEC) que não corrigirá as provas de avaliação de conhecimento e capacidades dos docentes sem vínculo à função pública, por considerar “ridículo o montante pago por prova”, ou seja, três euros. “Não acredito que professores conscientes e competentes, com experiência, se sujeitem a trabalhar por seis euros à hora, para mais no período de interrupção lectiva”, afirmou, em declarações ao PÚBLICO.

Foi através da divulgação, nas redes sociais, do texto de um e-mail enviado pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), na segunda-feira, que ficou a saber-se quem irá corrigir as provas contestadas pelos sindicatos e que terão de ser feitas, obrigatoriamente, por todos os professores sem vínculo que pretendam candidatar-se à colocação numa escola, no próximo ano lectivo.

As mensagens electrónicas foram dirigidas aos classificadores dos exames nacionais de Português, numa mensagem em que é indicado que a tarefa “implica a classificação, em média, de 100 respostas a um item de resposta extensa, o que corresponde a 100 provas”. Informa-se, ainda, que “cada resposta terá entre 250 e 350 palavras, aproximadamente”.

“Independentemente da justiça da prova, do ponto de vista de quem a faz, está em causa o respeito pelo trabalho de quem a corrige. Um professor consciente e competente, com experiência, sabe que uma resposta com aquela dimensão demora a corrigir entre meia-hora a três quartos de horas e não se sujeitará a isto”, disse Edviges Ferreira ao PÚBLICO. Frisando que falava não como dirigente da APP, mas a título individual, comentou que “uma empregada doméstica ganha seis euros à hora” e considerou a proposta feita aos professores “ridícula”. Quase mais valia não terem oferecido nada”, disse.

Actualmente, os correctores dos exames nacionais não são pagos por esse trabalho. No Parlamento, o ministro da Educação, Nuno Crato, afirmou na terça-feira que, neste caso, “as provas não são de alunos, mas de professores”, pelo que os correctores “têm de ser remunerados”.

No e-mail enviado aos professores-correctores de Português, o IAVE “solicita” que, caso não pretendam participar na correcção da prova de avaliação e de conhecimento marcada para dia 18 [de Novembro], o indiquem através de mensagem electrónica, até ao dia 14, ou seja, até à meia-noite desta quinta-feira.

A Federação Nacional de Professores (Fenprof) alertou que “se eventualmente não puderem enviar essa recusa até dia 14, nada obriga os docentes a devolverem a ficha de dados que o MEC lhes enviou”, para os incluir na lista dos correctores. “Tratando-se de uma proposta, não poderá haver aceitação tácita, nem imposição pela tutela”, avisa a Fenprof.

O PÚBLICO voltou nesta quinta-feira a pedir esclarecimentos ao MEC sobre esta questão, mas não obteve resposta.

A prova – que é formada por uma componente comum, marcada para dia 18, e por outras, específicas, a realizar dentro de alguns meses – está a ser contestada nos tribunais. Estão sujeitos a ter de a realizar cerca de 45 mil professores sem vínculo, alguns com muitos anos de serviço.

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