Presidente da Associação de Telemedicina lamenta falta de aposta nos diagnósticos à distância

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A Associação Portuguesa de Telemedicina foi criada há cerca de uma década Carla Carvalho Tomás

O presidente da Associação Portuguesa de Telemedicina lamenta que Portugal ainda aposte pouco neste recurso de diagnóstico à distância e sugere que o Ministério da Saúde avance para a criação de uma rede nacional.

“A telemedicina em Portugal não evoluiu como pensávamos que iria evoluir”, declarou à Lusa Eduardo Castela, que em 1998 foi pioneiro no país na criação de uma rede de cardiologia pediátrica a partir do Hospital Pediátrico de Coimbra (HPC).

Uma das questões que julga estar na base da fraca evolução da telemedicina, no caso da cardiologia, é o facto de os médicos, “porque não ganham bem, terem de recorrer a consultas regulares privadas, e não estarem disponíveis para integrarem um projecto destes”.

“As dificuldades que têm existido também passam muito pelas mudanças sucessivas na governação em Portugal”, acrescenta.

Eduardo Castela diz que ao assumir-se a associação como órgão consultivo para os governos na área da telemedicina, sempre que mudam os titulares na pasta da Saúde tem de voltar a explicar a vocação e vantagens, e “desde 1998 é a mesma história”.

“Era também necessário que o Estado tivesse uma função disciplinadora, porque há algumas experiências salpicadas pelo país de rudimentos de telemedicina em que cada um trabalha à sua maneira, e não são conectáveis”, também por incompatibilidade das plataformas tecnológicas, observa.

Entende que a administração central deveria também mobilizar “os interessados em organizar, de forma sustentada e firme, uma rede de telemedicina nacional, com as diversas nuances, dependendo das especialidades, mas conectáveis umas às outras”.

Para Eduardo Castela, a criação da Rede Informática da Saúde “foi um grande avanço, e agora é fazer um esforço de ensino e aprendizagem”.

Na sua perspectiva, especialidades como a cardiologia, a genética médica, ou outras que só existem nas grandes unidades hospitalares, podem recorrer mais à telemedicina, por não se justificar, por exemplo, um cardiologista pediátrico, ou um oncologista pediátrico, em todos os hospitais distritais.

“Isto não é a solução, naturalmente, para o Serviço Nacional de Saúde, mas é uma boa ajuda em algumas especialidades, e fundamental para a teleformação. É um enriquecimento, em especial numa altura, como esta, em que é preciso conter despesas”, sustenta.

Eduardo Castela, igualmente director do Serviço de Cardiologia Pediátrica do HPC, diz que a telemedicina “tem enormes vantagens” económicas, pois evita deslocações de utentes, é mais cómoda, e até faz diminuir o absentismo ao trabalho.

“Os médicos também ficam muito mais protegidos, porque acabam por ter, em tempo real, acesso a uma consulta que não têm no seu hospital”, e o diagnóstico que fazem, em diálogo com o especialista, poderá ser seguro, observa.

A Associação Portuguesa de Telemedicina, formada há cerca de uma década, está a elaborar uma obra que possa ajudar a expandir em Portugal este recurso para o diagnóstico à distância.

A União Europeia assinala a partir de hoje a Semana da Telemedicina, no âmbito da 9.ª Conferência Ministerial, a decorrer em Budapeste.

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