Portugueses estão mais preocupados com o ambiente mas falta-lhes informação

Poluição do ar e da água está no topo da lista de preocupações, segundo uma análise aos resultados dos inquéritos do Eurobarómetro.

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Estação de medição da qualidade do ar na Av. da Liberdade, em Lisboa, tem funcionado mas há muitas desactivadas, diz Luísa Schmidt Rui Gaudêncio

Os portugueses estão cada vez mais preocupados com o ambiente mas debatem-se com a falta de informação. Por exemplo, apesar de a maioria da população eleger a poluição do ar como principal preocupação, as entidades oficiais não divulgam dados actualizados sobre este indicador, que “não está a ser fiscalizado como deve ser pelo Ministério do Ambiente”, critica Luísa Schmidt, especialista em sociologia do ambiente.

Esta é uma das conclusões do estudo Ambiente, Alterações Climáticas, Alimentação e Energia – A Opinião dos Portugueses, desenvolvido pelo Observa – Observatório de Ambiente e Sociedade do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. O estudo, apresentado esta terça-feira na conferência Consumo Sustentável – Uma atitude verde, promovida pelo Green Project Awards, em Lisboa, assenta na análise dos resultados dos últimos 20 anos do Eurobarómetro, inquérito que mede a opinião dos europeus sobre vários assuntos, entre eles o ambiente.

Segundo Luísa Schmidt, coordenadora do estudo, 51% dos inquiridos consideravam o tema “muito importante” em 2011, uma percentagem que aumentou para 54% no ano passado, números muito próximos da média da União Europeia. “É curioso, sobretudo porque o ambiente não está na agenda política nem mediática neste momento”, comenta, acrescentando que “cada vez mais os cidadãos associam o ambiente à qualidade de vida e a uma base impulsionadora da economia”.

No entanto, a avaliação que os portugueses fazem do estado do ambiente é “dramática”: 51% consideram que é “mau” ou “muito mau”. A poluição do ar é a principal preocupação para 66% dos inquiridos no Eurobarómetro de 2014 – realizado em Maio, antes do surto de Legionella em Vila Franca de Xira, nota Luísa Schmidt. Mas “muitas das estações de medição da qualidade do ar estão desactivadas porque não há dinheiro para a manutenção, e por isso a informação não é divulgada”, critica, defendendo que este indicador devia constar dos boletins meteorológicos diários.

Em segundo lugar na lista de preocupações está a poluição da água, que antes estava no topo. “As pessoas vêem que a qualidade da água melhorou”, justifica.

“A maioria das pessoas sente que pode ter um papel activo na protecção do ambiente, só não sabe como”, afirma a investigadora, que defende um reforço da aposta na formação escolar. “As crises que existem no ensino secundário não ajudam a consolidar a educação para o ambiente, que estava a ter um impacto crescente e bem-sucedido até há poucos anos”, declara.

Por outro lado, Luísa Schmidt considera que deve ser dada mais voz aos cientistas, actores nos quais a população mais confia no que toca às questões ambientais. “Os mais jovens preferem que sejam os investigadores a tomarem decisões, em vez dos políticos”, sublinha.

Para a socióloga, os portugueses começam a afastar-se de uma vida ligada ao consumo para valorizar mais a qualificação ambiental. “Esta passa pelo uso gratuito de espaços públicos, como jardins, mas também pelo fenómeno das hortas urbanas ou dos mercados de bairro”, observa, defendendo que as gerações mais jovens, mais conscientes no que toca a problemas como as alterações climáticas ou as energias renováveis, precisam de “espaços de respiração para poderem inovar”.

O estudo desenvolvido pelo Observa permite também concluir que os portugueses valorizam cada vez mais a “sustentabilidade local” e o comércio de proximidade.

Segundo um estudo promovido pelo IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação), 60% dos consumidores tentam comprar produtos portugueses sempre que estejam ao seu alcance. “Porém, isto não quer dizer que no momento efectivo da escolha o preço não tenha um maior peso”, nota Miguel Cruz, daquele instituto. Isso é porque embora os consumidores se mostrem mais preocupados com o impacto do seu comportamento no ambiente também “precisam de sentir o benefício” que têm com a opção por um consumo mais “verde”, completa Fernanda Santos, da associação de defesa do consumidor Deco.

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