Portugal precisa de pelo menos mais 80 camas de cuidados intensivos

Insuficiências vão aumentar todos os anos devido a envelhecimento da população.

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Portugal tem 759 camas em cuidados intensivos Nuno Ferreira Santos

Com o aumento da esperança de vida espera-se que as necessidades nas unidades de cuidados intensivos aumentem todos os anos. Portugal precisaria de abrir pelo menos 80 camas nestas unidades nos próximos cinco anos, recomenda um relatório encomendado pelo Ministério da Saúde para fazer o balanço desta área da medicina.

Nas unidades de cuidados intensivos estão sobretudo doentes internados com infecções graves, doenças agudas ou crónicas agudizadas – “cada vez mais frequentes”, lê-se no relatório –, pós-operatórios com necessidade de meios extraordinários de suporte de vida ou monitorização, doentes em morte cerebral, que potencialmente podem ser dadores de órgãos, entre outras situações.

O relatório constata que as necessidades nesta área aumentarão porque ao aumento de idade da população se associa um aumento de complexidade das situações clínicas e do número de internamentos por pessoa.

Parte-se do pressuposto que existirá um acréscimo de necessidades de 1,5% ao ano para os próximos seis anos, o que totalizaria um acréscimo de 9% de camas até 2020. “Chegamos a uma necessidade no valor de 80 camas”, lê-se no documento disponível no Portal da Saúde. Actualmente existem 759.

Mas a necessidade de aumento encontra o seu maior obstáculo na falta de médicos com formação nesta área, os chamados intensivistas. “A partir de 2015 deveria ser reforçado o esforço de formação de recursos humanos que permitisse um aumento de camas entre 2017 e 2020”, defende-se. O coordenador do relatório, o médico Jorge Penedo, nota que o recente anúncio de abertura de 12 vagas para intensivistas pelo Ministério da Saúde pretende aumentar a capacidade de dar formação a médicos desta especialidade nos hospitais.

De acordo com relatórios internacionais citados no documento, “a situação de Portugal no que se refere à disponibilização de cuidados em medicina intensiva encontra-se abaixo daquela que é a mediana dos países europeus.” Os autores do documento notam que uma capacidade reduzida em cuidados intensivos é motivo de múltiplas problemas “inaceitáveis em  sociedades desenvolvidas”, “tais como cancelamento de cirurgias programadas, não recolhas de órgãos para transplantes, transferências inadequadas e altas demasiadamente precoces, exemplos claramente indiciadores de má pratica”.

Aponta-se também grandes assimetrias regionais, “num total global entre os mais baixos da Europa, a par de países como o Reino Unido, Holanda, Irlanda ou Grécia e abaixo da mediana europeia". Destaca-se que só a Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve se aproxima da mediana europeia (11,5 camas por 100.000 habitantes).

Na área dos cuidados intensivos pediátricos não se recomenda grandes alterações. Por exemplo, não existem cuidados intensivos para crianças na ARS do Alentejo, os doentes são transportados para a região de saúde de Lisboa, mas o relatório não recomenda a sua abertura. “Com o transporte inter-hospitalar pediátrico actualmente existente o custo-benefício da abertura de camas de cuidados intensivos pediátrico é pouco favorável à abertura.” Jorge Penedo explica que a não abertura não é recomendável por razões médicas, porque tem de haver um número de casos suficiente para garantir a existência de experiência técnica adequada. Só na ARS do Norte se defende a abertura de quatro novas camas de cuidados intensivos pediátricos, "contribuindo para a redução do número de transferências para a região centro."

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