Portugal é o terceiro país da Europa ocidental com mais raparigas obesas

Portugal aparece de novo nos piores lugares da tabela mundial da obesidade e excesso de peso, num estudo feito em 188 países.

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O cérebro de muitas pessoas obesas não responde devidamente aos sinais de saciedade emitidos pelo seu corpo Lucas Jackson / REUTERS

Portugal volta a aparecer nos piores lugares da tabela do excesso de peso e obesidade a nível mundial, num estudo publicado na revista The Lancet. Um exemplo: é o terceiro país da Europa ocidental com maior percentagem de raparigas obesas e com excesso de peso, problema que afecta mais de um quarto (27,1%) das jovens.

A equipa de investigadores do Instituto para a Avaliação e a Métrica da Saúde na Universidade de Washington (EUA) que assina este estudo afirma ter feito a análise mais exaustiva de sempre, com base em dados recolhidos em estudos, relatórios e na literatura científica sobre a prevalência de excesso de peso e obesidade em 188 países, entre 1980 e 2013. As conclusões são assustadoras: o número de pessoas obesas e com excesso de peso mais do que duplicou nas últimas décadas em todo o mundo, passando de 857 milhões em 1980 para 2,1 mil milhões em 2013.

Em Portugal, o cenário também é preocupante: todas as taxas surgem acima das médias da Europa Ocidental: o excesso de peso afecta 28,7% dos rapazes, 27,1% das raparigas, 63,8% dos homens e 54,6% das mulheres, enquanto a obesidade atinge 8,9% dos rapazes, 10,6% das raparigas, 20,9% dos homens e 23,4% das mulheres. Além de colocarem Portugal como o terceiro país da região com mais raparigas com excesso de peso e o terceiro com mais meninas obesas, os dados posicionam-nos no sexto lugar no que toca à proporção de rapazes com peso a mais.

São números que não surpreendem a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, que lembra estudos anteriores que apontam no mesmo sentido. “Na obesidade infantil e da adolescência, Portugal tem aparecido nos lugares cimeiros”, lamenta a nutricionista, para quem este “estudo de revisão” vem reforçar a convicção de que é preciso “encarar o problema da forma certa, fazendo uma aposta séria na prevenção”.

Alexandra Bento reconhece que o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), lançado em 2012 pela Direcção-Geral da Saúde, foi um grande passo em frente mas diz que é preciso meios para “operacionalizar algumas medidas” deste plano. “O Ministério da Saúde tem que encarar este problema como prioritário”, defende.

Apresentado em Outubro passado, o relatório "Portugal: Alimentação Saudável em Números 2013", recorda, já destacava números preocupantes: a obesidade atingia então um milhão de adultos e 3,5 milhões eram pré-obesos, enquanto cerca de 15% das crianças entre os 6 e os 9 anos era obesa e mais de 35% sofria de excesso de peso.”

Admitindo que os números “não são nada bons” e que a prevalência da obesidade nas crianças portuguesas está acima da média europeia, o responsável pelo PNPAS, Pedro Graça, prefere destacar que os dados mais recentes, nomeadamente da Organização Mundial de Saúde, indicam que Portugal não estará “assim tão mal”, porque “nos últimos quatro a cinco anos se verifica uma tendência para a estabilização”. Este fenómeno que se verifica também noutros países mediterrânicos, somado à tendência para o aumento do problema nos países do norte da Europa, está a contribuir para um “certo nivelamento”, reforça.

Mas esta evolução não chega para sossegar os especialistas. Sublinhando que Portugal tem “uma política alimentar desde há dois anos”, Pedro Graça reconhece que este tipo de intervenção “demora muito tempo” a surtir efeito. “São projectos que ultrapassam legislaturas e ciclos políticos”, diz, lembrando que outros países começaram a desenvolver políticas deste tipo há muitos anos. “A Noruega começou em 1974”, exemplificou.

Actualmente, um problema que está a preocupar os responsáveis nesta área – e que está a verificar-se um pouco por toda a Europa – é o aumento mais rápido da obesidade nos grupos mais desfavorecidos que se pode explicar, entre outros factores, pelo crescente recurso a alimentos mais calóricos, com pouco valor nutricional e mais baratos. Pedro Graça chama, a propósito, a atenção para um outro estudo esta semana divulgado pela OCDE, que alerta justamente para este problema. Nesse trabalho, Portugal aparece no grupo de países, como a Irlanda, a Grécia e a Espanha, onde, entre 2008 e 2013 se verificou uma diminuição dos gastos com frutas e vegetais.

Voltando ao cenário mundial, os resultados da investigação publicada na The Lancet permitem perceber de facto que, apesar do cenário “preocupante" que estes números traçam, o ritmo de crescimento da epidemia parece ter abrandado nos últimos oito anos nos países desenvolvidos, o que pode indiciar que o pico do problema já foi atingido, ao contrário do que está a acontecer nos países em desenvolvimento. O maior crescimento nos níveis de excesso de peso e obesidade ocorreu entre 1992 e 2002, sobretudo entre os 20 e os 40 anos. com Lusa

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