Polícias invadem escadaria da Assembleia da República

Organização diz que foi a maior manifestação de sempre. Pela primeira vez os polícias do sector da segurança interna participaram em conjunto numa manifestação, em protesto contra os cortes previstos no Orçamento. Em frente à AR, o ambiente foi de tensão.

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Bruno Simões Castanheira

Faltavam poucos minutos para as 21h, quando os manifestantes em protesto conseguiram furar o cordão dos polícias que os impediam de entrar na escadaria da Assembleia da República (AR). Já antes os ânimos se tinham exaltado, com muitos dos polícias a gritarem “invasão”. Apesar dos apelos à calma da organização, o Corpo de Intervenção foi chamado. “Temos família”, gritavam os profissionais em protesto.

Apesar de o ambiente ter acabado por serenar, a tensão foi visível, com manifestantes a empurrarem as grades, que acabariam por ser recuadas, tendo os profissionais, que protestam contra os cortes previstos no Orçamento do Estado (OE) 2014, acabado por conseguir subir a escadaria. O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) e secretário-Geral Comissão Coordenadora Permanente (CCP) dos Sindicatos e Associações dos Profissionais das Forças e Serviços de Segurança, Paulo Rodrigues, recusa a ideia de que os colegas que estavam a garantir a segurança tivessem facilitado o acesso e considera que foi uma "acção simbólica" e “espontânea”, que expressou "um estado de revolva" contra a governação do país. "O Governo tem de analisar muito bem o que aconteceu aqui. Não só a atitude simbólica de entrar nas escadas da AR, mas também pela mobilização", afirmou.

A organização disse que esta foi a maior manifestação de sempre do sector e avançou que terão aderido ao protesto cerca de 12 mil profissionais. “Esta manifestação tem a particularidade de juntar todas as polícias que representam o sector da segurança interna. É uma situação inédita. Pela primeira vez chegamos todos à conclusão que há aqui uma tentativa de destruição das forças policiais, que acaba por ser uma irresponsabilidade”, afirmou, acrescentando que as políticas do Governo estão não só a “degradar” o funcionamento das instituições, como “vão ter um impacto extremamente negativo na segurança dos portugueses”, podendo “comprometer a qualidade da segurança pública”.

A marcha foi do Largo de Camões até à AR, onde se pediu a demissão do Governo e onde também se ouviu alguns petardos. No meio da confusão, pelo menos duas pessoas caíram, tendo sido ajudadas pela organização e pela segurança.

O secretário-geral do Conselho Europeu dos Sindicatos de Polícia, Gérard Greneron, que esteve na manifestação, garantiu que vai levar as preocupações do sector ao Conselho Europeu. “A partir desta noite, este problema passa de uma dimensão nacional para uma questão de dimensão europeia”, disse, garantindo que vai pressionar as instâncias europeias para que adoptem “uma posição favorável” em relação às reivindicações destes profissionais.

O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, também marcou presença: “Viemos aqui trazer uma palavra de solidariedade e também de saudação à coragem destes homens e mulheres, que, estando a servir o país, tão maltratados têm sido por este Governo.” E acrescentou: “Estamos aqui a falar de polícias, de várias forças de segurança, que estão a ser vítimas dos cortes salariais, das reformas, e estão aqui a manifestar-se pelos seus direitos, mas também pelo serviço público, neste caso concreto salvaguardar a segurança da população portuguesa, que também está a ser posta em causa pelos cortes.”

Também o deputado do PCP António Filipe fez questão de comparecer. “Estamos solidários com as razões do descontentamento. Estes profissionais como a maioria da população portuguesa estão a ser lesados por esta política e este Orçamento”, disse, garantindo que o grupo parlamentar do PCP “tudo fará para que está política e Orçamento venham a ser derrotados”. “E estamos convictos que esta luta do povo português acabará por derrotar esta política”, acrescentou.

Na manifestação ouviram-se reclamações de vários lados: PSP, guardas prisionais. Gente de todas as idades e pontos do país. O presidente do Sindicato Nacional das Polícias Municipais diz que os profissionais do sector estão “mesmo indignados”. “Esperemos que o Governo compreenda este aviso de que a segurança da população portuguesa, a segurança pessoal, a integridade física, os bens, e a segurança rodoviária estão em causa”, disse. O presidente do Sindicato da Carreira da Investigação e Fiscalização do SEF, Acácio Pereira, sublinhou que o SEF marcou o início de uma greve de quatro dias para o dia da manifestação.

“Polícias unidos jamais serão vencidos” e “Passos escuta, os polícias estão em luta” foram algumas das frases que ecoaram pelas ruas de Lisboa. Enquanto esperava por colegas, que partiram de todo o país, João Ceriz, de 55 anos e agente da PSP há 30, explica que está ali porque, desde que “entrou aqui a troika” só tem perdido direitos e dinheiro.

Ao lado, Joaquim Abegão, 53 anos e também agente da PSP há 30 anos, concorda: "Estamos aqui a reivindicar a parte remuneratória e as condições de trabalho." Tem esperança que o Governo considere o protesto: "Espero que pense melhor e pondere melhor aquilo que nos anda a fazer." No final da reunião do Conselho de Ministros, o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, recusou, porém, fazer outro comentário além de um lacónico "é um exercício de um direito".

A manifestação foi organizada pela CCP dos Sindicatos e Associações dos Profissionais das Forças e Serviços de Segurança, e contou ainda com a presença dos inspectores da Polícia Judiciária e elementos das polícias municipais.
 
 
 

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