Polícias alvo de processo-crime por invasão das escadas do Parlamento durante a manifestação

Agentes de serviço também estarão na mira de processos disciplinares. Polícias vão colar 200 cartazes pelas cidades contra o Governo. “Basta”, dizem.

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Invasão das escadarias do Parlamento vai dar origem a processos-crime Bruno Simões Castanheira
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Os polícias prometem continuar a luta — agora vão afixar 200 cartazes em diversas cidades do país DR

O Ministério Público abriu um inquérito à manifestação das forças de segurança, em Novembro, em frente à Assembleia da República (AR). A investigação aos polícias, boa parte da PSP, resultou de uma participação da própria PSP, disse ao PÚBLICO fonte judicial.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou ao PÚBLICO a abertura do inquérito, sem conseguir indicar  que crimes estarão em causa. Em questão estará o facto de os agentes terem furado o cordão policial e subido as escadas da AR. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, ouvir a PSP.

Um penalista ouvido pelo PÚBLICO sublinhou poderem estar em causa os comportamentos dos polícias manifestantes e dos colegas em serviço. Segundo o especialista, se por um lado os manifestantes podem ter incorrido num crime de desobediência, que é punido com uma pena até um ano de prisão, podem estar em causa os crimes de recusa de cooperação e abuso de poder em relação ao comportamento dos agentes fardados.

Os polícias não impediram os colegas manifestantes de furarem o cordão e subirem as escadas. Aliás, muitos baixaram os braços sem tomar qualquer acção.

“Estou admirado. Cortam-nos os salários e deixam-nos apenas um caminho que é o do protesto e depois ainda somos alvo de um processo-crime por nos manifestar-mos? Eu, enquanto polícia, não vi ali nenhum crime. Foi um acto simbólico”, defendeu o secretário nacional da Comissão Coordenadora Permanente dos Sindicatos e Associações Profissionais das Forças e Serviços de Segurança, Paulo Rodrigues.

O agente, que subiu as escadas e é também presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP-PSP), deixa duras críticas ao Governo. “O único acto criminoso aqui é do Governo que leva as pessoas a irem para lá dos limites e a agirem com o coração. É impensável, num país democrático, manifestarmo-nos e oferecerem-nos como recompensa um processo-crime. Parece que queriam, afinal, e ainda querem da próxima vez, um banho de sangue”, alertou Rodrigues.

A revolta cresce entre os polícias à mercê dos cortes nos salários e também dos processos disciplinares a instaurar pela Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI). O relatório final, que foi enviado à tutela, propõe a abertura de processo disciplinar a dois oficiais da PSP responsáveis na operação à manifestação.

É ainda proposto, apurou o PÚBLICO, que sejam identificados agentes manifestantes. Tal está a ser feito com recurso às imagens captadas pelas televisões e pelas câmaras exteriores da AR e a fotografias de jornais. “É uma autêntica caça às bruxas”, resume Rodrigues.

“Que legitimidade tem a IGAI para instaurar processos disciplinares a manifestantes?”, questiona ainda o presidente do Sindicato Nacional de Polícia (SINAPOL), Armando Ferreira. A IGAI alegou sigilo e não respondeu.

Aquele sindicato prepara para breve um iniciativa inédita colocando polícias a colar 200 cartazes pelas cidades contra o Governo. “A Paciência tem limites” e “A nossa acabou”, diz um dos cartazes. “Vamos afixá-los nos locais de maior destaque. Ponderamos ainda publicá-los em jornais”, disse Armando Ferreira.

Agentes das restantes forças, entre GNR, PSP, SEF, Guardas Prisionais e ASAE, salientaram a contestação crescente. “O saco encheu. Nós continuamos a seguir o juramento à pátria e ao cidadão. O Governo não”, acusa o presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, César Nogueira, que marcou nova manifestação para 27 de Fevereiro.

A revolta mostra-se ainda nas redes sociais. No fórum do Facebook Forças de Segurança, profissão de risco..., no qual se contam quase dois mil agentes, são cada vez maiores os apelos à revolta. Muitos prometem invadir a AR numa próxima manifestação.

“Novo 25 de Abril”, “não acredito em reuniões, só vamos lá com demonstração de força”, “Sem medo. Temos de ir à luta”, “Deixem de fazer segurança a esses meninos”, “O Estado é o Estado porque têm do lado deles os que têm armas, mas assim não sei não”, são outros comentários que surgem. com Mariana Oliveira
 
 

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