Barricado em Lagos queria ver os filhos que perdeu após queixas de violência doméstica

Homem armado esteve barricado na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Lagos e manteve três reféns durante oito horas. Suspeito baleou agente da PSP na cabeça, mas polícia está livre de perigo.

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Agentes da PSP terão informado a Presidência da República de que iam levar o caso a julgamento RITA CHANTRE

O homem armado que mantinha, desde as 9h15 desta segunda-feira, três pessoas reféns nas instalações da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Lagos (CPCJ), no Algarve, entregou-se à polícia pelas 18h. Exigia ver os dois filhos menores com quem já não está há cerca de seis meses, adiantou fonte da PJ ao PÚBLICO. O homem, pedreiro de profissão e com cerca de 40 anos, perdeu a guarda dos menores na sequência de várias queixas por violência doméstica nos últimos anos e a ex-companheira vive actualmente em Lisboa. Os menores foram entretanto institucionalizados.

Para a PJ, polícia que irá agora investigar o caso, a tomada de reféns foi uma solução drástica de último recurso. O homem, que em tempos tentou um emprego em França, mas sem sucesso, perdeu recentemente o subsídio de desemprego, que chegou ao seu fim, e ter-se-á precipitado com esta acção armada, transtornado quer pelas questões pessoais quer pelas profissionais.

Um dos alvos da operação, suspeita a PSP, seria a psicóloga que tinha em seu poder os processos dos dois filhos do suspeito, com idades entre os 13 e os 15 anos. No entanto, a técnica escapou ilesa porque tinha saído com uma funcionária administrativa para ir tomar café. Será agora a Judiciária a tratar do caso uma vez que em causa estão crimes de sequestro e de tentativa de homicídio com arma de fogo.

Porém, nas imediações da CPCJ de Lagos, próximas de uma zona habitacional, o Bairro 25 de Abril e da Escola Júlio Dantas, a resposta policial foi assumida pela PSP com um forte dispositivo que fechou aquela zona às primeiras horas da manhã com recurso a centenas de elementos da Unidade Especial de Polícia, nomeadamente do Corpo de Intervenção da PSP.

A partir das 09h15, começaram a chegar à Praça da Paz (antigo bairro 25 de Abril) mais agentes e o perímetro de segurança foi alargado. O comando local da PSP assumiu a direcção da operação, pedindo reforços à Unidade Especial de Policia, que mais tarde fez deslocar para o terreno os atiradores especiais, prontos a entrar em acção ao primeiro sinal. 

 O sequestro durou quase nove horas, durante as quais os negociadores da polícia foram tentando convencendo o homem que manteve reféns a presidente da CPCJ, uma funcionária administrativa e um militar da GNR que por acaso ali se tinha dirigido à civil e desarmado para tratar de um processo. Já cansado, o suspeito libertou finalmente os reféns e entregou-se depois à PSP. Tinha consigo uma pistola e uma caçadeira de canos serrados bem como 29 cartuchos e 24 munições e um punhal de mato.

Carlos Cordeiro, segurança de profissão, foi quem deu o alerta para a PSP para o sequestro. Acompanhado pelo seu filho de 11 anos, Carlos dirigiu-se à CPCJ para tratar de uma consulta para o filho mas não passou da entrada. Lá dentro, ainda viu o homem com “uma caçadeira de canos serrados, em pose militar”. Viu também uma funcionária que com “com voz trémula e ar pálido” lhe pediu para voltar mais tarde. E, antes de se afastar, ainda ouviu o sequestrador desafiar:  “ E não quer chamar a Polícia?”. “ Notei que ele olhou para o meu filho, e só me deixou sair por causa do miúdo”, conta Carlos Cordeiro ao PÚBLICO acrescentando que ligou à PSP de Lagos mal entrou no carro. Em menos de cinco minutos, conta, chegou o primeiro agente, seguido de uma viatura, com mais quatro polícias. Um dos polícias, lembra, dirigiu-se às traseiras do prédio: “Teve azar: espreitou e lá dentro veio um tiro à queima-roupa”.

O disparo atingiu o polícia de “raspão” da cabeça, garantiu ao PÚBLICO a comissária da PSP de Faro, Maria do Céu. O polícia fazia parte da primeira patrulha chamada ao local para averiguar a situação. Logo após sair do carro com o objectivo de levar a cabo uma primeira abordagem do que estava a acontecer, o agente foi recebido por uma chuva de tiros e foi baleado, mas não ficou com ferimentos graves. O agente, que foi entretanto transportado para o Hospital de Lagos, está livre de perigo, garante a comissária da PSP .

A mesma responsável dava conta de que inicialmente o número exacto de reféns estava por apurar, uma vez que "o suspeito fechou tudo", não sendo possível visualizar o interior das instalações do organismo. Por essa altura, a PSP usava a sua página oficial no Facebook, para confirmar que estava em curso "um incidente táctico-policial na cidade de Lagos (Algarve)" e que  a situação estava a ser localmente "avaliada pelo efectivo do Comando Distrital de Faro com o apoio da Unidade Especial de Polícia que está no local".

“A parte final foi o mas fácil”, disse o comandante distrital da PSP de Faro Viola da Silva, responsável por esta operação, resumindo: “Após oito horas de negociação, com avanços e recuos, conseguimos convencê-lo a entregar os reféns e a render-se, não tendo sido necessário o uso da força”. 

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